Se arte e cidadania são mistura certa, essa é uma reparação que não podia deixar de entrar na pauta do festival que desde sua primeira edição marca seus propósitos contra todo e qualquer tipo de preconceito.
A curadoria da décima segunda edição do Santos Jazz Festival traz em seu line-up destaque ao talentos de dois gênios apartados do devido reconhecimento à época por puro preconceito. Johnny Alf foi o grande responsável pela mistura do jazz com o samba, criando os novos arranjos e harmonias que deram o tom da bossa nova, posteriormente popularizada por Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, entre outros. Contudo, Alaíde Costa conferiu, com graciosidade e afinação ímpar, grandes interpretações ao ritmo que faz história na música popular brasileira.
Concerto
Um concerto com a grande dama e um tributo especial a Johnny estão sendo preparados para que o público possa conhecer melhor a obra, se emocionar e aplaudir como o talento de ambos merece: de pé! “Neste ano temos a honra de poder trazer ao palco a imensa Alaíde Costa, que está recebendo merecidamente nos últimos tempos a reparação histórica pelo protagonismo como grande intérprete da bossa nova e tudo que representa pra música popular brasileira. E que bom poder fazer isso em vida! Para Johnny Alf, que foi o grande precursor da bossa e também sofreu veladamente todo tipo de preconceito, escolhemos destacar na programação um tributo especial, que até no nome reconhece sua genialidade: Genialf”, destaca Jamir Lopes, curador e diretor que assina a produção do festival.
Os dois cariocas sofreram veladamente todo tipo de preconceito. Sendo assim, ambos tímidos, de origem humilde. Além disso, ela mulher, negra. Ele homosseual, negro. Johnny Alf era um dos artistas preferidos de Alaíde.
Em comum fizeram muito. Deram movimento à bossa nova e nova identidade à riqueza singular da música popular brasileira, em melodia e voz. Alaíde tem trabalhos gravados em homenagem ao amigo, com quem muitas vezes dividiu palco, como em 2003, no London Jazz Festival, realizado no Queen Elizabeth Hall, em Londres. Johnny Alf (nome artístico de Alfredo José da Silva) faleceu aos 80 anos, em 2010.
Contudo, no ano anterior, o pianista, compositor e cantor fez seu último show e foi exatamente com a amiga, cantora e compositora Alaíde, na cidade de Santo André – SP.
Alaíde Costa no concerto de abertura
A dama da bossa nova é convidada de honra no concerto de abertura do festival. Ela que tanto lutou contra preconceitos, agora dá aula no palco do Santos Jazz Festival mostrando o encantamento de sua arte na jovialidade de seus 88 anos, numa mensagem primordial contra outro tipo de preconceito: o etarismo. Com o tema Sons da Esperança, o festival promoverá na abertura um encontro de gerações.
Acompanhada pela Orquestra Sinfônica Municipal, Alaíde cantará ao lado de dois jovens talentosos músicos da atualidade: o baiano Tiganá Santana e a prata da casa Monna. Juntos farão uma homenagem à genial obra de Milton Nascimento. Sendo assim, o concerto será na quinta-feira (dia 25), às 19 horas no Teatro do Sesc Santos. Todos os shows do festival são gratuitos. No entanto, este é o único onde é necessário retirar antecipadamente os ingressos, na própria bilheteria do teatro, na data do evento, às 10 horas.
Apresentações
No dia seguinte, na sexta-feira, às 22 horas, o palco onde acontecerão todos os outros 15 shows da programação, no Arcos do Valongo – Centro Histórico, receberá Vitor Cabral Septeto & Thalma de Freitas no show Genialf, aguardado tributo em celebração a Johnny Alf. Contudo, o nome é uma referência à forma como Tom Jobim reconheceu a genialidade de Johnny. Além disso, para a banda, o projeto visa mais que um tributo: se arrisca a criar uma nova obra a partir do legado de um artista que tanto retrata nosso país, inclusive no esquecimento, descobrindo um tesouro ainda pouco explorado e indo ao encontro das raízes brasileiras mais profundas.
“A obra de Johnny Alf carrega essa intersecção única e apaixonante da música instrumental com a música canção. Desse modo, tem densidade, melodia, harmonia, o lirismo poético do cancioneiro que faz a música brasileira ser reconhecida grandiosa como ela é. Ele carrega esse lugar da dimensão da música canção e da instrumental. E trazemos isso ao palco nesse projeto”, conta Vitor Cabral. Contudo, o show terá a participação especial da atriz e cantora Thalma de Freitas, que está comemorando seus 50 anos.
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