Quem passa pela primeira vez na Avenida Pedro Lessa, quando se aproxima da esquina dela com o Canal 5, depara-se com uma construção, no mínimo, diferente. Para o mais desavisado, que não a olha com uma atenção mais apurada, alguns traços de sua arquitetura podem fazer que, a primeira imagem à mente, seja a de uma mesquita islâmica, tanto pelo formato de torre cilíndrica como por detalhes redondos de sua fachada. O que surpreende quando, ao se chegar perto, nota-se que aquela elevação nada mais é do que uma… caixa d’água.
É bem verdade que o local não está mais em funcionamento como caixa d’água há aproximadamente três décadas. Atualmente, seu interior (parte térrea) é uma sede administrativa e operacional da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), onde fica a gerência operacional da empresa. No entanto, o número 1.728 da avenida, pela sua peculiaridade em se situar entre prédios e o incessante centro urbano da Pedro Lessa, é uma verdadeira marca registrada da via onde está localizado.
E mesmo tanto tempo depois, ainda há quem chame a torre de caixa d’água, mesmo com sua capacidade total, de até 2 milhões de litros, completamente vazia. Pois é, o nome pegou. Há quem também conheça a construção com a adição de mais um nome: caixa d’água do Macuco. Faz sentido, já que, no passado, o terreno em que a torre está situada era parte do bairro que também a apelida, mas que hoje faz parte da Aparecida.
Empresa que marcou a expansão urbana de Santos, no que diz respeito à iluminação e distribuição de água, e que esteve em atuação até o princípio dos anos 50, até ser passada ao poder público, foi a inglesa City of Santos Improvementes CO. LTD a responsável por erguer a torre, em 1938. Embora situada no antigo Macuco, era essa a caixa que abastecia a Ponta da Praia, em um processo que permaneceu até após 1970, quando foram concluídas as obras de implantação do Reservatório Túnel do Morro do Santa Tereza / Voturuá, considerado o maior de sua natureza na América Latina.
De acordo com informações da Sabesp, explicadas pelo gerente do Departamento Distrital da empresa em Santos, João César Queiroz Prado, a função da caixa d’água era a de elevar o nível da água e manter sua pressão para abastecer a região. No entanto, como o reservatório no morro está em uma altura ainda maior que os 30,5 metros que separam a torre do Macuco (ou Aparecida) do solo, o processo de bombeamento da água deixaria de ser necessário. “Esse tipo de construção ainda existe, mas técnicas mais recentes permitem o bombeamento de água diretamente na rede. Quando este tipo de torre ainda é utilizado, no entanto, faz-se um estudo de viabilidade técnica e econômica para definir qual é a forma mais viável”, complementa.
Até por isso, a construção, que tem uma altura equivalente a de um prédio de aproximadamente 10 andares, não é mais usada em sua função habitual. Ainda assim, justamente sua dimensão, aliada aos resquícios de uma arquitetura típica de uma torre “tradicional”, ajudaram a manter a caixa d’água em pé, com seu interior, utilizado para funções operacionais da Sabesp.
Com sua razão de ser. Afinal, aquela torre, que já foi uma das mais avantajadas construções da própria Pedro Lessa, em um tempo em que a via ainda era basicamente formada por casas e por onde ainda passavam bondes, é a que mais bem presenciou as mudanças que a hoje potencialmente comercial avenida santista sofreu nos últimos 71 anos desde que foi levantada.