O combate ao contrabando de madeira no Brasil conta com uma tecnologia desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), para a identificação de produtos ilegais. A iniciativa utiliza imagens que podem ser inclusive tiradas pelo celular para que um especialista faça a identificação macroscópica das espécies através das fotos.
Desse modo, na prática, essa nova tecnologia aumenta a eficácia das polícias na fiscalização e combate à exploração ilegal de madeira. O especialista não precisa estar no local das operações. As análises das amostras têm envio pela internet e os laudos são emitidos de um único local, o que permite maior agilidade no processo. Assim, mesmo à distância, é possível detectar a atuação de contrabandistas e fazer a autuação em qualquer lugar do país.
A responsável pelo desenvolvimento da técnica de identificação é a pesquisadora Sandra Florsheim, do IPA. A curiosidade é que a ideia da metodologia surgiu após uma consulta médica. “Fui ao dermatologista e o médico usou um aparelho microscópico para examinar minha pele. Aí eu tive a ideia de comprar esse aparelho e fiz alguns ajustes para que ele ficasse na altura ideal que era necessária para ampliar em 10 vezes a imagem e estar apto para fazer a identificação. Nós conectamos esse aparelho ao computador por volta de 2007”, destaca a pesquisadora.
Tecnologia
Atualmente qualquer aplicativo de zoom no celular, desde que amplifique a imagem em 10 vezes, é suficiente para ter a leitura correta da anatomia e conseguir identificar cada espécie de madeira. Mas o laudo é emitido sempre por especialistas.
“Criamos essa tecnologia para as operações em estradas ou madeireiras. No início nós tínhamos que participar de todas as operações e fazer o laudo. Com o passar do tempo recebíamos as imagens por e-mail na nossa sala. Agora nós fazemos um treinamento bem elaborado para que os próprios policiais possam identificar a origem do bioma”, diz Sandra.
Os policiais federais e militares de São Paulo, que são treinados pela pesquisadora, coletam uma amostra e tiram uma foto, que precisa ser amplificada em 10 vezes, e a análise é feita nos planos transversal e tangencial. Atualmente o procedimento ocorre também por celular. O treinamento do IPA dura cerca de 40 horas e oferece uma qualificação necessária para identificação botânica da espécie, se é nativa ou exótica.
A análise é de suma importância para a população, já que esse produto precisa de uma certificação, a validação de um processo que tem por propósito favorecer o uso sustentável dos recursos naturais, por meio do manejo florestal, legislação florestal, impactos ambientais e exploração ilegal de madeira. O processo de identificação impacta no consumidor final, que precisa saber exatamente o tipo de madeira adquirido.
Comercialização ilegal
A comercialização ilegal gera uma série de problemas para a natureza, como a perda da biodiversidade, que pode causar a extinção de espécies da fauna e flora no bioma. Animais que se alimentam de sementes e fazem a dispersão dessas sementes no solo, por exemplo. A degradação da floresta, poluição do solo e diminuição dos mananciais são outras graves ameaças.
Toda madeira transportada precisa de um Documento de Origem Florestal (DOF), que é emitido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esse documento contém informações sobre as espécies, tipo do material, volume, valor do carregamento, placa do veículo, origem, destino, além da rota detalhada.
A madeira com a identificação correta auxilia na fiscalização, certificação e comercialização; evita a troca de madeira nas exportações e importações; auxilia nos processos jurídicos, nos quais seja necessário comprovar a espécie de madeira, além dos estudos técnico-científicos que envolvam anatomia, taxonomia e tecnologia de madeira.
“Durante a verificação da carga dos caminhões ou depósito das madeireiras, se confirmada qualquer ilegalidade, a polícia faz a apreensão da mercadoria. A carga é direcionada para um pátio cedido pelo município até que a justiça tome as devidas providências”, completa.
Além disso, o crime de uso de documento falso para transporte de madeira ilegal está previsto no art. 304 do Código Penal. A pena pode chegar a 1 ano de prisão e multa de R$ 6 mil por hectare ou fração, podendo ter ampliação.
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