Com o avanço das discussões sobre a construção do futuro túnel entre Santos e Guarujá, um dos pontos centrais desta pauta não têm recebido merecido o devido destaque.
Nem discussão por parte das autoridades.
Nem da Imprensa, aliás.
No entanto, ele merece uma atenção especial.
É o que alerta o ex-prefeito de Santos (2005-2012) e ex-deputado federal João Paulo Tavares Papa (PSDB).
“Se os caminhões forem permitidos, todo o fluxo de carga pesada entrará na Cidade, ainda que pela perimetral, trazendo sérios problemas no trânsito da Cidade”, alerta.
Vale lembrar que na última semana, por excesso de caminhões, a Rodovia Cônego Domênico Rangoni registrou vários pontos de congestionamento desde as primeiras horas da manhã.
Por sua vez, pelo vídeo divulgado pelo grupo Vou de Túnel, que defende a obra, os caminhões circularão livremente entre Santos e Guarujá, inclusive com cobrança de tarifa de pedágio.
Confira o vídeo
“Apoio a iniciativa neste local desde que seja para fins exclusivamente de mobilidade, com uso pelas pessoas. Caso contrário, será um sério problema para as cidades”, adiantou o ex-prefeito.
Entenda-se mobilidade o tráfego de automóveis, motocicletas, bicicletas, pedestres e ônibus urbanos, além do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos.
Por sua vez, ele ressalta que qualquer ligação seca para cargas – seja túnel ou ponte – seja instalada na região do Saboó, pois aproveitaria tanto o fluxo de caminhões que viriam pela Anchieta, mas também atenderia os demais modais.
“O ex-prefeito Oswaldo Justo já defendia que o Saboó seria o melhor local para a ligação da Cidade, que pode ser por túnel ou ponte. Aliás, hoje a engenharia tem condições de fazer tais obras. E os impactos seriam, sem dúvida, menores”, salienta.
Dessa forma, todo o tipo de veículo poderia acessar a ligação seca, qualquer que seja a opção escolhida.
Túnel zonas leste e noroeste
Papa disse que o mesmo ocorrerá com o futuro túnel ligando as zonas leste e noroeste, pelos bairros do Marapé e Vila São Jorge.
“Se for a mesma proposta apresentada anteriormente, ela vai atingir diretamente dois bairros residenciais, afetando o cotidiano da população onde lá reside, prejudicando a qualidade de vida destes bairros”, enfatiza
Aliás, ambos os empreendimentos, se saírem do papel, estão programados dentro do projeto de desestatização do Porto de Santos, defendido pelo Governo Federal.
O objetivo é licitar a administração portuária ainda neste ano, a despeito das eleições marcadas para outubro.
Portanto, tais iniciativas voltaram a ser defendidas durante o seminário Vou de Túnel, ocorrido na última sexta-feira (18), em Santos.
O evento contou, de forma virtual, com a participação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, pré-candidato ao governo do Estado.
Ele deixará o cargo até o final do mês.
No mesmo dia, Papa participou do programa Jornal Enfoque – Manhã de Notícias, onde expôs esta preocupação, assim como a própria proposta de desestatização – ou privatização – do cais santista.
Papa vê riscos
Além disso, o ex-prefeito falou sobre os riscos que o projeto defendido pelo governo federal trará para a Baixada Santista.
“A administração portuária pertence ao Estado em todos os portos do mundo. A única exceção é um pequeno porto na Austrália. Se em todos os portos da Europa, da América do Norte e da Ásia funcionam assim, por que aqui queremos fazer algo diferente?”, indaga.
“O melhor modelo que é adotado é o Landlord“, defende.
Ou seja, o porto funcionaria como um condomínio – a exemplo de um edifício.
Papa lamenta que as cidades e a Agem- Agência Metropolitana ficaram à parte das discussões.
“Elas deveriam estar fazendo suas próprias audiências públicas, trazendo especialistas de portos de vários locais do mundo para analisar as vantagens e desvantagens desta proposta do governo”, destacou.
Caso claro desta divergência está na questão ambiental.
A SPA (ex-Codesp) ampliou a área de expansão portuária, praticamente dobrando dos 8 para 15,5 km2, sendo que boa parte localizada em área de preservação ambiental de Santos, além de Cubatão.
E ainda: sem que houvesse um melhor detalhamento e discussões sobre as questões ambientais em vigor.
“Na verdade, o Governo Federal já tomou a decisão. As audiências públicas só servem para acertar detalhes”, salientou.
Ou seja, algo meramente protocolar e para responder às demandas previstas em lei.
Portanto, mero ato burocrático.
Papa critica o governo federal de tentar privatizar a administração portuária (“o porto já é privatizado desde os anos 90”, lembra) do maior porto da América Latina justamente em um ano eleitoral.
Política
Dessa forma, durante o programa, o ex-prefeito defendeu o governo João Doria e do vice, Rodrigo Garcia, enfatizou que permanecerá no PSDB e disse que espera as mudanças da janela partidária, que se encerra no dia 1º de abril, para ter uma definição mais clara das eleições de outubro.