Vila Socó: uma ferida nunca esquecida em Cubatão | Boqnews
Foto: Vânia Revheim

Tragédia

07 DE DEZEMBRO DE 2016

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Vila Socó: uma ferida nunca esquecida em Cubatão

Muitas das vítimas da tragédia foram encontradas em geladeiras, caixas d’ água e embaixo dos escombros

Por: Vânia Revheim (colaboradora) (*)
Da Redação

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Vila Socó foi consumida por um incêndio, há 32 anos, considerado um dos maiores  do Brasil. Na noite do dia 24 de fevereiro de 1984, um vazamento de 700 mil litros de gasolina dos dutos da Petrobras gerou as chamas que deixaram mais de 500 mortos, em números extra oficiais. Muitas das vítimas foram encontradas dentro de geladeiras, caixas d’água e embaixo dos escombros.

A segurança patrimonial da Sociedade de Melhoramentos da Vila São José, Claudilete Augusta Leite (foto), estava grávida na época e conta que sentia um cheiro forte de gasolina na noite do acidente.

Claudete tinha 15 anos e estava grávida quando a tragédia ocorreu.

Claudete tinha 15 anos e estava grávida quando a tragédia ocorreu. Foto: Vânia Revheim

Quando foi olhar pela janela, o local já estava pegando fogo. Começou a queimar no meio da vila e, depois, se alastrou até chegar no Jardim Casqueiro (ela lembra que só teve tempo para fugir).

Quando tentava sair de sua casa, não viu uma valeta, que a fez cair no caminho. “Consegui sair ilesa do local, mas minha amiga Maria, que estava grávida, não. Eu a vi sendo consumida pelo fogo, que fez estourar sua barriga. O bebê foi expulso. Infelizmente, os dois acabaram morrendo. Ainda no meio do caminho, vi pessoas com o tecido da pele desaparecendo”, lamenta e desabafa a segurança.

Na época, as pessoas desabrigadas ficaram no Centro Esportivo. A Petrobras indenizou todas essas famílias vítimas do incêndio, construindo novas casas.

José Fernandes de Jesus, ex-presidente da Sociedade de Melhoramentos da Vila São José – nome que sucedeu a Vila Socó – , acordou com os gritos dos vizinhos. Ele conta nunca mais ter visto, após o incêndio, seu colega de brincadeira de rua.

José Fernandes perdeu amigos na tragédia

José Fernandes perdeu amigos na tragédia. Foto: Vânia Revheim

Fernandes  (foto) responsabiliza a Petrobras pela falta de responsabilidade, e acrescenta que a empresa teve total culpa pelo ocorrido. “As autoridades da empresa perceberam o cheiro da gasolina no local, mas mesmo assim não tomaram  providência, como chamar um responsável para resolver o problema”, diz o ex-presidente da sociedade de melhoramentos.

A enfermeira Irene Barbosa Santos Pinheiro contradiz a versão de Fernandes. Segundo ela, dias antes a população foi avisada que a área apresentava riscos e que era bom que eles saíssem do local, pois havia gasolina com risco de pegar fogo. “Mas, o pessoal não quis dar a mínima”, acrescenta.

No dia da tragédia, Irene escutou uma explosão e, rapidamente, levou todas as roupas, inclusive a dos enxovais de casamento, saindo com toda a sua família para a rua.

Ela conta também ter visto vários animais queimados. Muitos parentes ou amigos de vizinhos morreram na tragédia. “Nunca mais vi minha amiga Acidália e nem sei o que aconteceu com ela”, relata.

Graça comprou uma casa no bairro 15 dias antes da tragédia

Graça comprou uma casa no bairro 15 dias antes da tragédia. Foto: Vânia Revheim

Novos moradores

O incêndio não afetou apenas quem morava, mas também as pessoas que estavam chegando, como no caso de Maria das Graças, que chegou ao local uma semana após o incêndio. Ela havia comprado 15 dias antes uma casa na comunidade. Conhecida como “Graça”, hoje ela é recepcionista da Sociedade de Melhoramentos.

Na época, era copeira do hospital Santa Casa de Cubatão – antiga filial da Santa Casa de Santos. Chegou a ver seu padrinho de casamento, Waldomiro, no hospital. “Ele acabou morrendo no acidente pelo fato de querer salvar os cachorros e pegar os documentos. Então, resolveu voltar para soltá-los, mas quando saiu acabou caindo na água fervendo”, lamenta

(*) A colaboradora é aluna do 2º ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília e elaborou este texto para uma edição especial sobre Vila Socó, dentro de disciplina ministrada pelo professor Gerson Moreira Lima

 

No bairro, memorial lembra parte das vítimas do incêndio, considerado um dos piores já ocorridos no País.

No bairro, memorial lembra parte das vítimas do incêndio, considerado um dos piores já ocorridos no País. Foto: Vânia Revheim

 

 

 

 

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