A política da fé | Boqnews

Opiniões

26 DE MARÇO DE 2022

A política da fé

Por: Humberto Challoub

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A medida em que as candidaturas vão sendo definidas e a disputa disputa pele conquista dos votos de fiéis religiosos se intensifica, volta à evidência um tema que há muito faz por merecer a atenção da sociedade brasileira: o estelionato religioso por organizações que se valem do benefício das isenções de impostos para formação de grandes conglomerados patrimoniais.

Levantamentos realizados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras – órgão ligado ao Ministério da Fazenda especializado no combate à lavagem de dinheiro – não deixam dúvidas: os donativos e dízimos pagos pelos fiéis, que poderiam ser considerados como legais se usados apenas em obras assistenciais e na manutenção dos templos da igreja, em muitos casos têm sido utilizados para a compra de carros, imóveis, aviões, empresas e emissoras de rádio e televisão, com a utilização de operações que utilizavam paraísos fiscais no exterior.

Não há como se questionar o livre e sobrenado direito à escolha do credo, porém, da mesma forma, deve-se condenar com veemência a utilização de métodos espúrios para a exploração da fé a serviço dos meios políticos.

Com sofisticadas técnicas de persuasão e amparadas por redes de comunicação espalhadas por todo o País, igrejas de várias tendências e filosofias teológicas proliferaram de forma vigorosa, congregando cada vez mais fiéis em praticamente todas as cidades brasileiras.

Se, por um lado, havemos de reconhecer o valioso papel social e benemerente exercido pelas igrejas por meio da defesa dos ideais de paz e união dos povos em torno de objetivos comuns; por outro, não podemos fechar os olhos para os inúmeros casos de estelionato praticados com a utilização da retórica da fé, que invariavelmente envolvem as populações de baixa renda e menor instrução.

A crescente participação de representantes de igrejas em processos políticos eleitorais denota desvirtuamento dos conceitos e princípios sacerdotais, uma vez que não estão claras as reais intenções de conjugar objetivos religiosos a ideários partidários.

Se efetivamente existem pretensões de transformar credos em empreendimentos empresariais e palanques políticos, que sejam feitos sem o uso de isenções fiscais ou qualquer outra benesse pública, de forma a não trazer prejuízos ao conjunto da sociedade.

Também torna-se necessário questionar a utilização de concessões públicas de rádio e televisão pelas organizações religiosas, evitando assim que sejam transformadas em instrumentos publicitários para a cooptação de novos adeptos e para a arrecadação de recursos em nome de falsos arautos da fé, que se aproveitam do credo de inocentes para construir templos de luxúria e poder.

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação

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