Francamente, não consigo entender a massificação de certas coisas no Brasil.
Uma delas é o funk carioca, muito diferente do estilo musical que James Brown, nos EUA, Tim Maia e Cassiano, no Brasil, consagraram.
Recentemente, numa festa de formatura do Ensino Médio, em Recife, houve uma confusão geral por conta do tipo da seleção “musical” utilizada pelo “DJ”.
Pais consideraram as letras do que estava sendo tocado impróprias para adolescentes.
Francamente, eu as considero inadequadas para ouvidos humanos não apenas pela péssima qualidade das letras, mas pelo conjunto da obra.
Nos anos de 1970, as pornochanchadas eram liberadas para maiores de 18 anos.
Atualmente, uma série de liberalidades foram permitidas indiscriminadamente em mídias, seguindo tendências mundiais.
As consequências têm sido nefastas em nossa juventude, e não só nela.
Fui criança e adolescente nos anos de 1960 e 70, e cresci ouvindo vários estilos musicais, em vários idiomas, do samba de roda à música clássica.
Os morros cariocas eram pródigos em revelar sambistas maravilhosos! O funk carioca, nesse contexto, jamais teria espaço!
Parece coisa de um projeto universal que alguns considerariam em teorias de conspiração.
O que mais me preocupa não são as letras lascivas e as coreografias associadas a elas, mas o fato de sua recorrência até em festas infantis, sob as bênçãos de pais, no mínimo, desatentos!
Quem faz a seleção dessas músicas e quem concorda com elas?
Os “DJs”, talvez por já terem perdido capacidade auditiva, tocam essas coisas em volume ensurdecedor, e a mistura de vozes sofríveis, ritmos e arranjos parece vinda do inferno.
Não bastasse terem o mau gosto de tocá-las, impõem-nas a todo o ambiente, tornando impossível conversar e até ouvir os próprios pensamentos. É música de fazer doido, com associações extremamente preocupantes!
Falando de inferno, se é que tem música lá, deve ser desse tipo! Faz o “thrash metal” parecer música clássica renascentista!
Não me atrevo a reproduzir as letras, muitas delas celebrando crimes e promiscuidade como “identidade cultural”. Algumas se salvam, mas são exceções raríssimas.
A atitude dos pais de Recife foi exagerada? Pode ter sido. No entanto, tudo isso poderia ser evitado se houvesse aprovação prévia do conteúdo, o que é um direito de quem contrata e, nesse caso, dos pais.
Aliás, não sei se os pais têm conhecimento do que é ensinado a seus filhos nas escolas atuais.
Seria censura? Alguns podem considerar que sim, mas seus motivos também são questionáveis.
Porém, cabe aos pais e professores, em tese e como compromisso com o futuro da juventude, cuidarem da sanidade mental e desenvolvimento intelectual de suas crianças e adolescentes.
Ser tolerante não é aceitar qualquer coisa!
O que parece divertido em ritmo e “dancinhas” pode, subliminarmente, comprometer o discernimento e capacidade cognitiva, numa fase em que tudo de bom e ruim pode ser assimilado e adotado como normal.
O Brasil vive um momento em que o excesso de liberalismo está comprometendo o futuro de nossos jovens, alienando-os a interesses pouco edificantes, incentivando-os inconscientemente a práticas degradantes; tanta é a massificação que lhes é imposta por modismos e imposições midiáticas, sem falar em interesses maliciosos.
Estive num evento similar ao de Recife, e a seleção era majoritariamente de funk carioca, tocando o pior do péssimo em nível de explosão nuclear a céu aberto, num ambiente fechado.
Mas havia pais “curtindo” junto com os filhos, o que demonstra que a falta de discernimento e de noção de consequências estão arraigadas na sociedade que, a pretexto de uma evolução, está progressivamente decaindo em valores e respeito ao ser humano. Parece que essa é a intenção…

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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