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09 DE OUTUBRO DE 2016

Abismo educacional

Por: Fernando De Maria

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A divulgação do sistema de notas por escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com resultados de 14.998 escolas que cumpriram o critério de ter pelo menos dez alunos participantes do Enem 2015 e taxa de participação igual ou superior a 50%, revela o abismo existente entre as escolas públicas e privadas no País.

A despeito da falha na ausência no processamento dos resultados dos institutos federais – algo que o Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira divulgará em data ainda não definida – fica claro que a escola pública brasileira, especialmente no Ensino Médio, vive uma trágica realidade.

Os dados são inquestionáveis: 97% das escolas com as melhores notas são do ensino privado. E mesmo entre aquelas consideradas as melhores no setor público, todas são qualificadas, pois promovem os tradicionais ‘vestibulinhos’, onde os alunos passam por um processo seletivo. Ou seja, só entram os que obtiverem as melhores notas, vários deles, portanto, provenientes de escolas privadas no Ensino Fundamental.

Um círculo vicioso e de perspectivas trágicas para aqueles que residem em lugares mais periféricos e que têm na escola a única oportunidade para ampliar horizontes e mudar de vida, algo que lhes é negado.
Com raras exceções de praxe, milhares de jovens estão sendo deixados de lado em razão deste sistema educacional perverso, onde apenas aqueles que têm melhores condições financeiras e estruturais conseguem vislumbrar um horizonte melhor para seu futuro e de sua família.

Assim, o País deixou a fase do analfabetismo pleno, em queda, para a ampliação da escola para todos. Só que, na prática, as discrepâncias sociais são cada vez maiores e só reforçam um cenário preconceituoso, onde jovens de classe média ou alta têm direitos que são negados aos das periferias.

O cerne da questão é que falta ao País uma política séria e comprometida no Ensino Médio, cuja responsabilidade é, de forma geral, dos governos estaduais, incompetentes em lidar com tal questão. Ao invés da valorização do professor, percebe-se um esvaziamento no interesse e é comum a ausência de docentes nas mais variadas disciplinas nas escolas localizadas em áreas periféricas. Não bastasse, os professores convivem com a violência e até consumo de drogas nas próprias unidades.

Assim, a soma de salários irrisórios, falta de estrutura, temor da violência e ausência de apoio para ações pedagógicas impedem os avanços necessários para lidarmos com o Ensino Médio. Na prática, o País valoriza o Ensino Superior e esquece-se por completo o valor deste ciclo intermediário, criando este hiato.

Apesar do governo ter anunciado que fará mudanças, é importante, porém, ampliar as discussões e envolver outros grupos sociais para efetivamente transformar o Ensino Médio como uma ponte profissional para milhares de jovens, seja para carreiras técnicas ou universitárias, mas que possam ter melhores perspectivas que as atuais, sob o risco de termos cada vez mais gerações perdidas pela falta de perspectivas, graças à incompetência e desinteresse de nossas autoridades.

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