A repetição das tragédias provocadas pelas chuvas no País, que agora acomete de forma dramática a população do Rio Grande do Sul, mais uma vez evidencia as consequências desastrosas geradas pelos processos de expansão urbana ocorridos ao longo das últimas décadas.
Sem poder contar com planos consistentes para guiar ações de governos e à mercê da ausência de políticas perenes para a prevenção de desastres climáticos cada vez mais frequentes, milhares de famílias vivem hoje sob o temor das tragédias anunciadas, sem qualquer perspectiva de solução em curto prazo.
A gravidade da situação obriga, em um primeiro momento, a urgência nas ações para salvaguardar a vida das pessoas atingidas pelo avanço das águas, visando assim garantir dignidade e condições mínimas de subsistência às famílias afetadas.
Nesse sentido, não há de se questionar a criação de mecanismos facilitadores para agilizar o envio de recursos federais para cobrir necessidades prementes para, posteriormente, iniciar os trabalhos de reconstrução que serão necessários para a retomada da normalidade naquele estado.
É de se esperar, também, total transparência e rigorosa fiscalização no uso dos recursos disponibilizados, de forma a evitar o desvio de finalidade e as conhecidas práticas de corrupção, que alimentam cofres de oportunistas e engordam o caixa de grandes empreiteiras.
As sucessivas ocorrências de desastres naturais em várias regiões do País impõem às autoridades públicas o dever de estabelecer novas diretrizes à expansão das cidades, que passa, obrigatoriamente, pela revisão do modelo de desenvolvimento econômico e social que se pretende para o Brasil.
Criar estímulos para a fixação das populações em localidades adequadas e contempladas com sistemas preventivos são fatores que, sem dúvida, devem pautar a introdução de novos conceitos desenvolvimentistas.
Caso contrário, as intervenções que hoje se fazem necessárias para conter e reduzir as dimensões das tragédias servirão, mais uma vez, como meros paliativos diante de um problema insolucionável se tratado com complacência e omissão. Afinal, quantas mortes ainda serão registradas para revelar o que há muito está evidente?
O poder de mobilização e o espírito de solidariedade presente nas tragédias deve servir como exemplo e prova da capacidade transformadora inerente da sociedade brasileira, que assim deve contribuir e exigir dos governantes a adoção de políticas duradoras para a construção de novos paradigmas de desenvolvimento sustentável, que certamente excluem a reprodução dos modelos configurados até aqui.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
Deixe um comentário