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01 DE JULHO DE 2025

Aprendendo a voar

Adilson Luiz Gonçalves

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Existem várias músicas que falam sobre voar, como Sonho de Ícaro, de Biafra; Learning to Fly, do Pink Floyd; Broken Wings, de Mr. Mister, entre outras.

Elas falam de aprender a voar, reaprender a voar, curar feridas, ou voar bem alto, com o risco de se ferir.

Diziam que voar era para os pássaros, mas o voo disponível para os seres humanos não é somente por aeronaves.

Aliás, a criação de aeronaves decorreu de “voos” de pensamento, de sonhos que se tornaram realidade, de ousadias em desafiar o senso comum de seu tempo, de superar limitações.

Asas quebradas podem ter múltiplos significados, mas asas podadas normalmente se referem ao propósito de impedir voos, ou a limitá-los a “voos de galinha”.

É uma forma de condicionamento e, até, de escravidão.

No caso de seres humanos, o ato de podar asas limita seu pleno desenvolvimento, seu livre-arbítrio.

A humanidade pode estar perdendo um gênio, se bem que também pode estar sendo livrada de um algoz.

A doutrinação ideológica ou religiosa é uma forma de poda de asas, mas o conformismo não fica atrás.

Dois filmes que abordam esse tema, em contextos semelhantes: Como Era Verde o Meu Vale (1941) e Céu de Outubro (1999), ambos baseados em histórias verídicas e encenados em pequenas cidades, cuja principal atividade econômica é a mineração de carvão, empregando a maioria dos homens.

No filme de 1941, uma numerosa família tem o pai e os filhos mais velhos trabalhando nas minas.

No entanto, o pai decide que o filho deve ser um literato, investindo em sua educação.

Na produção de 1999, ambientada em 1957, o pai se orgulha de ser mineiro e tem planos para os dois filhos: o mais velho tem vocação para o esporte e recebe uma bolsa para estudar na Universidade; o mais novo, sem vocação bem definida, ele quer que trabalhe na mina, que se orgulharia dele só nesse caso.

Na escola local, uma professora tenta inspirar seus alunos a sonhar, enquanto o diretor prega o conformismo, como se não houvesse outra opção além do trabalho nas minas.

Seu argumento é que essa atividade é honrada, o que é fato. O problema está na poda de asas que esse conformismo representava.

No entanto, o jovem, fascinado ao ver o satélite Sputnik cruzando o céu noturno, decide, junto com outros três colegas, lançar foguetes.

Ele é motivo de chacota na cidade e de severa crítica do pai.

Tanto o personagem de 1941 quanto o de 1999 trabalharam nas minas em função de seus pais, não pelos mesmos motivos, antes de perseguirem seus sonhos.

Na vida real, o personagem de 1941 se tornou escritor, e os quatro personagens de 1999 alçaram outros voos profissionais, com ênfase no protagonista, que efetivamente se formou engenheiro e foi trabalhar na NASA.

É bem razoável associar as “minas” físicas e psicológicas à Alegoria da Caverna de Platão.

Ambas falam de um confinamento que limita ou condiciona o desenvolvimento dos seres humanos, perseguindo, inclusive eliminando quem traz uma “luz”, o que igualmente remete ao suplício de Prometeu.

O triste é que muitos seres humanos têm sido “educados” para não pensar, sendo submetidos a cartilhas ideológicas e religiosas, ou com seus pais obrigando-os, condicionando-os a seguirem suas profissões, desaprovando qualquer voo fora de seus planos.

No extremo oposto, voos de Ícaro são temerários, pois podem quebrar asas, não raro de forma definitiva.

O ideal, então, é que a educação ensine a fazer planos de voo, identificando vocações e fomentando seu desenvolvimento.

Infelizmente, há educadores idolatrados por pregarem limitações, podando asas para manter seres humanos sob as “asas de galinha” de suas crenças e opções, demonizando quem tenta voos fora de seu “espaço aéreo” ou descobre a luz fora da “caverna”.

Esses “educadores” podem até ter boas intenções, mas eles não podem ser paradigmas.

 


Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras

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