A Holanda tem cerca de dezessete milhões de habitantes, número menor do que a existente na área conturbada ocupada por São Paulo e algumas das cidades limítrofes.
Esta “Grande São Paulo” chega a vinte e dois milhões, praticamente a metade de todos os habitantes do Estado.
Entretanto, enfrentou um desafio: para alimentar todos os holandeses, propôs-se produzir o dobro de alimentos com a metade dos recursos. E conseguiu.
É uma das maiores exportadoras de tecnologia agrícola e alimentos.
É pioneira na produção de carne artificial, agricultura vertical, tecnologia de sementes e uso de robótica na ordenha e colheita.
E o mais importante: os holandeses focaram a redução do uso de água e de emissão dos gases venenosos causadores do efeito-estufa.
Sua plantação é feita, prioritariamente, em estufas. Usa menos de dois litros de água para produzir meio quilo de tomates, enquanto a média global é superior a cento e cinco litros.
Isso resulta do incentivo intensivo em pesquisa. Por isso é que nada menos do que quinze dentre as vinte maiores empresas agroalimentares mantêm centros especializados de pesquisa na Holanda.
As dificuldades climáticas geraram singular fenômeno: um povo eficiente. É o que se traduz por seu cenário exportador.
A Holanda é a principal fornecedora mundial de sementes para plantas ornamentais e vegetais.
No seu chamado “Vale das Sementes”, desenvolvem-se e se descobrem pioneiras variedades de flores e de outras plantas.
O maior gasto de uma das principais empresas é na pesquisa. Tanto que seus responsáveis a definem como uma “empresa de pesquisa”. Por isso consegue lançar, a cada ano, cerca de cento e cinquenta novas variedades de vegetais.
São também líderes na agricultura vertical. As fazendas verticais e de estufa aumentam a produtividade com luzes de LED e suas verduras e legumes são cultivados sem o uso de pesticidas ou herbicidas.
Essa é uma lição a ser aprendida pela agricultura brasileira. Privilegiada com clima que até agora é benéfico, não tem se preocupado com real investimento em pesquisa.
Pouco ou nada se faz para economizar água, para migrar rumo a uma cultura de descarbonização, com foco exclusivo na intensificação dos ganhos e mirando apenas a balança comercial e o aumento da exportação.
O mundo precisa de mais juízo, porque já emitiu todos os sinais de exaustão.
É a ciência, é a pesquisa, é a tecnologia que pode nos salvar. Vamos aprender com a Holanda.
José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente do programa de Pós-graduação da Uninove e autor de “Ética Ambiental” e outros livros.
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