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Opiniões

18 DE MARÇO DE 2011

As lendas urbanas

Por: Da Redação

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A decisão do Governo estadual de assassinar e enterrar o projeto de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) apenas confirmou que a ideia jamais conseguiu sair da abstração. O VLT engrossou a lista das lendas urbanas, que causam adoração e temor em muitos segmentos da região.


As lendas urbanas são uma expressão cultural norte-americana, consolidadas e difundidas principalmente pelo cinema. Lendas urbanas não servem para explicar o mundo que nos cerca. Mas podem ilustrar e expor como alegorias nossos piores medos.


A Baixada Santista teme jamais abdicar de suas amarras provincianas. A proximidade com o maior centro político e econômico do país realimenta o sonho da vida cosmopolita. O problema reside em abrir mão dos confortos e dos privilégios que a Síndrome de Sucupira nos fornece.


A classe política, muitas vezes adepta do provincianismo como garantia de poder, explora os receios e as angústias locais via linguagem do progresso. Nada diferente da filosofia que fez escola, por exemplo, com Adhemar de Barros e Paulo Maluf. Grandes obras, nesta lógica, representariam a mudança radical de destino, aquilo que a região poderia ter sido.


A Ponte Santos-Guarujá, como legítima lenda urbana, está no projeto há mais de meio século. O discurso vigente prega que a ponte seria a solução definitiva para a travessia entre as duas cidades. Ações menos megalomaníacas, como ampliação do serviço de balsas e planejamento do trânsito, são tão irrelevantes assim?


Toda lenda tem um caráter mágico. O ilusionismo é o combustível que cristaliza a fantasia e a distancia de uma realidade concreta e sensata. O então candidato à presidência José Serra, no ano passado, vestiu a cartola e apontou a varinha de condão para o litoral quando inaugurou a maquete da ponte. Pelo menos, houve serventia ambiental. Os materiais que compõem a maquete podem ser – em parte – reciclados.


Neste jogo de cena, representamos os personagens de Esperando Godot, peça escrita pelo irlandês Samuel Beckett. Somos os dois sujeitos que aguardam por alguém sem saber o motivo. Esperamos o que e quem não conhecemos.


Sem ter ideia do porquê, empacamos pela expectativa e pela esperança. Acreditamos, às cegas, no novo, embora sejamos incapazes de defini-lo.
Na Baixada Santista, Godot se esconde nas lendas urbanas que, assim como ele, jamais se farão presentes em carne, osso e obra concluída. Godot, para se eternizar, apenas muda de feições na nossa imaginação. O sonho se desloca, no jogo político, para não sair da inércia.


A Baixada Santista, parafraseando o Brasil, é pintada como o símbolo do futuro. O cenário perfeito para Godot, um camaleão de terno, gravata e mandato de quatro anos. Ele, que interpretou nos últimos 15 anos o Ceasa regional, o aeroporto metropolitano, o parque da Xuxa, o VLT e a ponte entre Santos e Guarujá, para elencar seus principais trabalhos.


Hoje, a classe política reescreve o texto de Beckett quando joga as nossas fichas no pré-sal. Nossas porque políticos não assumem eventuais equívocos para construir uma lenda. Quanto tempo esperaremos se o futuro sequer foi esboçado no horizonte ou no fundo do oceano?
Tenha a certeza de que, entre promessas e projetos, o mágico nunca erra o número. Foi você que não compreendeu o truque.

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