Algumas vezes o cinema deixa o papel de arte e consegue ir um pouco mais além de suas obrigações, se torna então um documento histórico que vai além de qualquer julgamento. As Portas do Inferno se Abrem: A História do Vulcano (que tem uma pré-estreia essa semana em Santos) é um desses momentos. Um misto de documentário e declaração de amor.
A “declaração de amor” é feita pelo diretor santista Wladimir Cruz em sua terceira experiência na cadeira de diretor (antes disso fez os documentários sobre a loja de discos Woodstock e ainda sobre a boate paulistana Inferno), e mantando a mesma paixão pelo rock, agora o alvo é uma banda seminal do metal, que muito provavelmente é uma das mais respeitadas do mundo, mas que por aqui parece ser ignorada por grande parte do público.
Mas o foco de As Portas do Inferno se Abrem nem de perto é repreender àqueles que desconhecem a importância da Vulcano, muito pelo contrário, a ideia aqui é celebrar esses mais de quatro décadas de vida dessa banda. Suas histórias, seus integrantes, suas viagens e seus discos. Tentar entender de dentro para fora o que é a Vulcano e quem sabe expor seu legado tantos aos fãs, quanto à quem não conhece.
E se isso leva tempo, o documentário do diretor santista não esconde suas pretensões de mostrar o máximo de tudo que tem em mãos. E antes que você pergunte: sim, quarenta anos de banda resultam em um documentário que foge das pequenas durações do gênero. São duas horas e quarenta minutos que podem parecer longas, mas que passam voando para os fãs, e verdade seja dita, é difícil imaginar que os não iniciados se aventurem em um filme tão feito sob medida para os roqueiros ouvintes da banda.
Mas talvez o que mais vale em A História do Vulcano seja dar de cara com a verdade com que, tanto o projeto é feito, quanto seus personagens são tratados. E nesse caso, o destaque fica mesmo não só com o líder e fundador da banda, Zhema (que serve quase como uma âncora do filme), como com todos em que a câmera encara, já que ninguém ali parece ter vontade nenhuma de contar exatamente tudo aquilo que eles querem, sem meias verdades, com história deliciosas e ainda com a impressão que em certos momentos alguns acontecimentos podem mesmo ser enxergados de diversos jeitos (e nesses momentos o filme ganha uma vida enorme!).
As Portas do Inferno se Abrem: A História do Vulcano até derrapa diante da ausência de mais material de arquivo, ou até uma certa confusão temporal em certos momentos, mas sobre tudo isso é esse documento histórico sobre essa que é uma das maiores bandas do Brasil, mas que permanece (e permanecerão) desconhecidas em território brasileiro enquanto são celebradas pelos fãs do gênero nos quatro cantos do mundo.