Aos deuses da virilidade,
Neste sábado, dia 8 de março, não é Dia Internacional da
Mulher. Finjam que desconhecem a data e não tentem encenar em um dia o que são
incapazes de praticar no resto do ano. Como primeiro passo, é melhor assumir
que vocês não acreditam nos discursos desgastados de morte do sexo frágil, de
sensibilidade para a vida, de igualdade no mercado de trabalho, entre outros
clichês que se reproduzem nesta época.
Compreendam, no cotidiano, que uma mulher quando conversa
com vocês talvez deseje somente isso: conversar. Quem sabe construir uma
amizade ou um bom relacionamento no ambiente de trabalho, na universidade, na
vizinhança? Uma mulher, quando inicia um diálogo, não está pensando
necessariamente em sexo ou em flertar com vocês.
Neste sentido, entendam também que, quando uma mulher se
veste de maneira mais sensual ou com roupas mais curtas, ela não é uma vadia.
As roupas mais curtas, seja uma minissaia, seja um decote, não trazem uma placa
com o texto: Por favor, me estuprem!!
Mulheres não são propriedades ou objetos de consumo, muito
menos dentro da família. Pais, avôs, tios, irmãos e primos, parentesco não é
salvo conduto para violentar as mulheres de sua casa. Vocês deveriam ter
superado esse comportamento selvagem. A bestialidade deveria ter ficado na
época das batalhas com cavalos e espadas, quando nossos ancestrais se vestiam
com peles de animais.
Na vida profissional, suas colegas costumam ser competentes
e, quando são promovidas, é bem provável que a mudança aconteceu por
merecimento. Suas colegas de trabalho não tiveram relações sexuais com os
chefes ou se tornaram amantes deles. Talvez vocês não tenham sido promovidos
porque o desempenho delas é melhor. Elas estudaram mais e se dedicaram mais ao
trabalho.
Dentro de casa, vocês tem parceiras, e não escravas, até
porque dona de casa é cargo sem remuneração. Por que, nos restaurantes, vocês
respeitam os chefs de cozinha, mas em casa o fogão tem nome feminino? Lavar a
louça, arrumar a cama ou trocar fraldas são funções humanas, sem determinação
por gênero. Ou desconheço alguma legislação que estabelece a mulher como dona
exclusiva destas áreas?
Se as mulheres ganham mais do que vocês, por que resolvem
acabar com o casamento? Não é um contrato de sociedade conjugal? Então, ambos
têm responsabilidades. Um parceiro ter maior salário do que o outro é
circunstancial e nada definitivo. Vocês não são provedores. Vocês dividem o
espaço e a vida com alguém, na intimidade.
Vocês podem argumentar que muitas mulheres compartilham de
suas opiniões. Elas acham que mulheres de roupa curta são vadias e deram para
os chefes na empresa, além de vibrar com a nova máquina de lavar e viver às
custas de vocês.
Quando
ouvem tais sandices, vocês enchem o peito e falam com orgulho: sou o homem da
casa. Existem mulheres machistas. Elas podem ser as piores porque repetem a
estupidez humana sem ter consciência disso.
Como são previsíveis, vocês pretendem presentear as
mulheres com flores, café da manhã na cama, caixa de bombons e outros mimos para
amenizar suas culpas. Sejam honestos com vocês mesmos e, principalmente, com
elas. Peçam que elas os perdoem e encarem o restante dos dias como uma
repetição contínua de 8 de março. È melhor do que encenar datas.
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