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Opiniões

13 DE MARÇO DE 2014

Chega de conversa

Por: Da Redação

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Racismo é crime, com
pena prevista na legislação brasileira. Nos últimos 30 dias, dois jogadores e
um árbitro foram agredidos em seus ambientes de trabalho por selvagens. Tinga,
do Cruzeiro, Arouca, do Santos, e o juiz Márcio Chagas da Silva engrossaram a
lista de vítimas de uma violência rotineira no país e em outras culturas.

O que se esconde por trás disso é a tentativa contínua de
se colocar panos quentes na questão. O atacante Luis Fabiano, do São Paulo, por
exemplo, questionou em programa de TV se era racismo ou se eram provocações. Se
xingar o árbitro de macaco e colocar bananas no carro dele não são atos
racistas, o que precisamos mais, então? Violência física? Segregação a la
África do Sul, no século 20?

O Santos Futebol Clube tomou a decisão correta de acionar o
Ministério Público e pedir abertura de inquérito para que se localize os
torcedores responsáveis pelas agressões ao jogador Arouca. É preciso ir além de
somente interditar o estádio do Mogi Mirim, local onde o atleta foi atacado.
Neste sentido, é lamentável a atitude do presidente do clube do interior,
Rivaldo, um ex-jogador que recebeu o título de melhor do mundo, outro a
fortalecer a turma do deixa disso.

O Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Gaúcha de
Futebol puniu o Esportivo, time da primeira divisão do Estado, com perda de
cinco mandos de campo e multa de R$ 30 mil. O motivo foram os atos de racismo
da torcida contra o árbitro Marcio Chagas da Silva durante uma partida entre
Esportivo e Veranópolis, em 5 de março.

No entanto, não devemos nos iludir. A punição, mais uma vez,
foi branda. Os auditores se dividiram. Metade deles defendia a pena máxima, que
incluía a perda de nove pontos, o que rebaixaria o Esportivo para a Segunda
Divisão estadual com uma rodada de antecedência. O voto de desempate foi do
presidente da casa, Marcelo de Freitas e Castro. Ele alegou que uma punição
rígida abriria perigoso precedente.

Pior do que o delírio, a conivência ou a omissão dos
envolvidos com o futebol, é o comportamento da classe política, sempre ávida
por capitalizar a própria imagem em cima de problemas sociais, sem resolvê-los.
O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, ao saber que o Santos procurou o
Ministério Público, deu uma resposta protocolar de acompanhamento do caso.
Temos que admitir: é uma reação coerente de quem sempre amacia as dificuldades por
causa da imagem em torno da Copa do Mundo.

A
presidente Dilma Rousseff fez demagogia ao convidar Arouca, Tinga e Marcio
Chagas para discutir o problema do racismo, em Brasília. O que precisa ser debatido?
Concluir que se trata de um câncer social? Diagnosticar um tumor que sangra há
décadas?

Basta
aplicar a legislação com rigor, sem distinção de clubes ou atletas. E envolver
dirigentes das principais agremiações brasileiras, muitas delas sustentando
relações promíscuas com torcidas profissionais e currículo de violência.

O presidente da CBF, José Maria Marin, que adora os
holofotes das solenidades, segue calado. No caso do Cruzeiro e o jogador Tinga,
a Confederação Sul-Americana nada fez em relação ao Real Garcilaso e sua
torcida. A CBF, em autopreservação de interesses políticos, evitou qualquer
rota de colisão.

O
futebol é um termômetro cultural da sociedade. Num campo, é possível perceber
as nuances dos valores morais que permeiam um grupo de pessoas. Muitos se
escondem entre os corpos nas arquibancadas para extravasar seus piores
comportamentos, cientes de que sairão impunes de quaisquer atrocidades.

A relação entre
futebol e política me fez lembrar de um ex-candidato a prefeito da principal
cidade da Baixada Santista. Ele escreveu que racismo era fantasia no Brasil. Para
quem desconhece o conceito de civilidade, definitivamente. 

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