Quando criança, eu ficava fascinado com séries como “Joe 90” (UK, 1968-1969), menino que adquiria temporariamente conhecimentos sobre diversos assuntos, a partir de uma máquina.
Num episódio de “Jornada nas Estrelas” (EUA, 1966-1969), o Dr. McCoy, cheio de dúvidas, entra num dispositivo alienígena, para aprender a fazer uma cirurgia no cérebro do Sr. Spock. Ao sair da máquina, com expressão de surpresa, ele exclama: “Mas é claro!”
Nos dois casos, o conhecimento era temporário, esvaindo-se em momentos cruciais das tramas.
Em “Johnny Mnemonic” (EUA, 1995), o personagem de Keanu Reeves é usado como um “HD” orgânico, sem acesso às informações que transportava no cérebro, mas precisando descarregá-las dentro de um prazo, para não sofrer danos mentais.
Na saga “Matrix” (EUA, 1999), o mesmo Keanu adquiria habilidades virtuais por meio de cognição artificial reversa.
Em “O Reino da Caveira de Cristal” (EUA, 2008), a personagem de Cate Blanchett, que ansiava por obter conhecimentos extraterrestres, teve um colapso mental fatal.
Que maravilha seria obter conhecimento sem a necessidade de estudar, pesquisar ou minimamente raciocinar!
Mas não é assim que a “banda toca”, pois é humanamente impossível saber tudo sobre tudo!
O conhecimento fragmentado do especialista tem seu valor num determinado contexto, mas não no todo.
Já o conhecimento geral é importante para tentar entender de forma mais ampla o universo. Daí a importância de equipes multidisciplinares.
Tudo tem sua importância, mas cultura, inteligência e sabedoria nem sempre estão no mesmo lugar.
Pessoas simples, que nunca saíram de suas cidades ou tiveram estudos avançados, às vezes são mais sábias em sua humildade do que outras, que conheceram o mundo, estudaram em escolas caras ou elegeram um tema para satisfazer sua autoestima, mas que disso só resultou excesso de bagagem, arrogância e esnobismo.
Várias vezes ouvi que a aprendizagem efetiva só ocorre quando faz sentido.
Assim, para aprender, é preciso entender e contextualizar. Sem isso seremos como os personagens aqui mencionados, ou seja, meros terminais remotos de pensamentos e ideias alheias.
Um livro ou qualquer meio de expressão humana será estéril se quem lê ou observa não tiver a condição de conferir, inferir, diferir, questionar, contestar ou mesmo divagar sobre o que seu autor expõe ou propõe. Também é importante ser autor de sua própria vida.
Tão importante quanto adquirir conhecimento é o uso que se faz dele. A autonomia intelectual é imprescindível, bem como o entendimento de que, ao contrário do que ocorreu com os personagens de Keanu e Cate, o conhecimento não ocupa espaço.
No entanto, é preciso ter a humildade de reconhecer que o muito que se sabe sobre pouco, ou o pouco que se sabe sobre muito, nunca deve ser motivo de soberba.

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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