O desmatamento da Amazônia em fevereiro levou algumas pessoas a criticarem o atual governo.
Somente ingenuidade ou má-fé levaria a um questionamento dessa natureza.
O desastre infligido à natureza de 2019 a 2022 foi sem precedentes e somente um milagre impediria que as sequelas permanecessem durante longo período.
Basta lembrar que as estruturas de tutela ecológica, lenta e cuidadosamente edificadas durante décadas, foram sumariamente desmanteladas.
Ricardo Galvão, do INPE, por ter tido a coragem de criticar a omissão de dados, foi exonerado.
Os conselhos da cidadania foram extintos ou impedidos de funcionar.
O Fundo Amazônia, menosprezado, foi congelado. Noruega e o Reino Unido desistiram de continuar a contribuir.
Acenou-se à criminalidade organizada que a Amazônia seria o paraíso da delinquência.
Invada-se qualquer área demarcada, qualquer reserva indígena, qualquer propriedade da União.
Aproveite-se da omissão governamental em relação ao tema de relevância extrema: a regularização fundiária, e façam daquilo um território sem lei, sem autoridade, sem qualquer escrúpulo.
Poluam os rios, queimem as matas, vocês terão anistia ampla, geral e irrestrita.
A nefasta reunião ministerial em que se explicitou que se poderia “soltar a boiada”, já que a mídia estava preocupada e envolvida na pandemia, foi bem assimilada por todos aqueles criminosos que continuaram o genocídio indígena, o envenenamento das águas, do solo, da atmosfera.
Quem acreditaria que essa organização delitiva, cada vez mais organizada e com tentáculos pelo planeta inteiro, iria retroceder, apenas porque o governo mudou?
As chagas abertas na floresta, na crença que devem merecer as instituições, a confiança no governo, a ressurreição dos dogmas ambientais de que o Brasil cuidou com tanto carinho e ajudou a disseminar pela Terra, são profundas e ainda continuam a sangrar.
Levará enorme tempo até que elas se cicatrizem.
O raciocínio é muito simplório: usar motosserra para matar uma árvore que levou centenas de anos para se tornar aquela potência ecossistêmica é simples e leva alguns minutos.
Qual o ser humano capaz de repor uma espécie adulta e capaz de gerar idênticos benefícios no mesmo tempo?
Da situação de Pária Ambiental à dimensão de Promissora Potência Verde, não se chega por mágica.
Serão anos de sacrifício e de empenho.
Pois o vendaval arruinou todos os biomas, não só a Amazônia e, depois dele, haja paciência e perseverança para consertar os estragos.
José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras.
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