As convocações dos movimentos pró e contra o presidente Bolsonaro, para a realização de manifestações no dia 7 de setembro – data icônica na qual se comemora a Independência do Brasil -, preocupam pelo tom provocativo com que ambos os lados têm conduzido os chamamentos à participação popular.
Diante da radicalização ideológica e pelo profundo abismo político que separa essas correntes, teme-se que mais uma vez a intolerância e a violência ocupem o protagonismo nos atos programados, revelando a fragilidade de nossa democracia.
Apesar do reconhecimento de que muitos dos atos de barbárie que têm ocorrido em eventos dessa natureza devam ser atribuídos a grupos de baderneiros infiltrados, especialmente as agressões promovidas contra bens públicos e estabelecimentos privados, é notória a disposição de alguns manifestantes em recorrer às vias de fato para impor suas pautas de moral e de costumes.
Inegavelmente o regime democrático trouxe inúmeros benefícios para a sociedade brasileira, porém também havemos de reconhecer a necessidade de seu aprimoramento para a supressão das imperfeições nele identificadas, entre as quais os desvios de conduta e a falta de civilidade nas relações marcadas por diferenças ideológicas e antagonismos políticos, onde deveriam prevalecer o respeito e a tolerância.
Nesse sentido, mais do que nunca torna-se fundamental a implantação de um sistema de proteção policial que assegure a liberdade de expressão e, sobretudo, garanta a integridade física dos participantes, evitando a repetição de cenas trágicas ocorridas em manifestações realizadas em passado recente. Igualmente importante a atuação de lideranças e organizadores de ambos os eventos na orientação dos manifestantes, de forma a estimular uma participação responsável e pacífica, sem o que as mobilizações terão pouca serventia.
A polarização das posições políticas que tem contaminado os ambientes dos poderes institucionais em nada tem contribuído para a busca de consenso sobre questões relevantes à Nação, especialmente para a adoção de medidas voltadas à melhoria das condições de vida das famílias brasileiras.
Não é de se esperar das partes a união de propósitos ou a associação de ideários programáticos, mas sim a valorização da cidadania, a prática da resiliência e a aceitação do contraditório.
A democracia assegura a todos a manutenção das liberdades individuais e de pensamento, propiciando as condições ideais para o desenvolvimento social e econômico do País, porém só poderá ser plena e efetiva quando não prescindir dos valores éticos e morais inerentes às relações interpessoais que alicerçam sua existência.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação.