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Opiniões

18 DE FEVEREIRO DE 2020

Desordenamento caótico

Por: Humberto Challoub

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A repetição das tragédias e transtornos provocados pelas chuvas no País, especialmente as que ocorreram recentemente em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, mais uma vez evidencia as consequências desastrosas geradas pelos processos descontrolados de expansão urbana ocorridos ao longo das últimas décadas. Fruto da falta de planejamento e dos deslocamentos populacionais em direção aos grandes centros, o adensamento das metrópoles resultou na acelerada e incontrolável ocupação de regiões de risco; em invasões de áreas imprescindíveis à preservação ambiental e, sobretudo, no estabelecimento de núcleos de pobreza extrema.

Sem poder contar com planos consistentes para guiar ações de governos e à mercê da ausência de políticas perenes para a expansão da oferta de empregos, contingentes populacionais de várias partes do Brasil se agruparam no entorno das cidades produtivas, ocasionando inúmeras distorções no meio urbano, entre as quais a ocupação desordenada de encostas de serras e morros, manguezais, margens de rios e áreas que serviriam à macrodrenagem. Protagonistas e vítimas desse infortúnio, milhares de famílias vivem hoje sob o temor das tragédias anunciadas, sem qualquer perspectiva de solução em curto prazo.

Nesse sentido, mais do que promover intervenções contingenciais no intuito de tentar salvaguardar condições mínimas de habitabilidade e transporte, às autoridades públicas cabe o dever de estabelecer novas diretrizes para o crescimento das cidades, que passa, obrigatoriamente, pela revisão do modelo de desenvolvimentos econômico e social que se pretende para o Brasil. Descentralizar pólos de produção e criar estímulos para a fixação das populações em suas regiões de origem são fatores que, sem dúvida, devem pautar a introdução de novos conceitos desenvolvimentistas.

As intervenções que hoje se fazem necessárias para conter e reduzir as dimensões das tragédias servirão, mais uma vez, como meros paliativos diante de um problema não solucionável se tratado com complacência e omissão. Afinal, quantos prejuízos e mortes ainda haverão de ocorrer para revelar o que há muito está evidente? O poder de mobilização e o espírito de solidariedade presente nas tragédias servem como exemplo e prova da capacidade transformadora inerente à sociedade brasileira, que assim deve contribuir e exigir dos governantes a adoção de políticas duradoras para a construção de novos paradigmas de desenvolvimento sustentável, evitando definitivamente a reprodução dos modelos configurados nas megacidades.

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