Charmander, Squirtle ou Bulbasaur? Em 27 de fevereiro de 1996 a empresa GameFreak utiliza a ideia de Satoshi Tajiri, um japonês que colecionava insetos e simulava confronto entre eles, para criar uma das franquias de maior sucesso do GameBoy (do Nintendo DS, do Nintendo 3DS e assim vai…) e nasce Pocket Monsters (ou Pokémon). Com Pokémon Red e Pokémon Green (o Blue veio um tempo depois), a série iniciou um sucesso que hoje totaliza 209,15 milhões de cópias vendidas da linha principal e se transformou em um dos carros-chefe da Nintendo ao lado de mitos como Mario, The Legend of Zelda, Donkey Kong, Kirby e muitos outros personagens do hall da empresa.
Charmander (fogo), Squirtle (água) e Bulbasaur (grama) apresentaram os jogadores ao mundo dos Pokémon, em 1996
Nestes 21 anos de sucesso, não importa onde você começou, qual Pokémon escolheu para iniciar sua jornada, se você joga desde 1996 ou se começou em 2016, com os recém-chegados Pokémon Sun e Pokémon Moon, até mesmo se você joga apenas o sucesso Pokémon GO. Poderia apostar que conhece o Pikachu. Que sua mãe, sua avó, seus primos, sobrinhos, filhos ou esposa/esposo conhecem o famoso monstro elétrico. Em 1999 a febre era tamanha que seus produtos preenchiam todas as lojas e todos queriam tirar uma lasca do sucesso alcançado. E aí, começou o que chamo de “Efeito Pokémon”.
Por 21 anos, o sucesso da franquia Pokémon inspirou muitos outros jogos neste mesmo estilo. Alguns fizeram e fazem tanto sucesso quanto ele, como o caso de Digimon. Tem suas diferenças, lógico, falando em termos de videogame o primeiro game lhe deixava em mãos com um monstro e que podia cuidar e tratar para que evoluísse de forma adequada ao que pretendia. Mas Digimon World 2, de PlayStation, de 2000, copia exatamente a fórmula como a conhecemos. Um “treinador” que pode capturar diversos monstros, evoluí-los e treinar para aprenderem novas técnicas e habilidades para enfrentar outros. A fórmula foi alterada, camuflada, mas até hoje a temos como em Digimon Story Cybersleuth, um dos últimos jogos da franquia. Em termos de vendas, não há comparação entre os dois, mas sempre é o mais lembrado ao se pensar nos quais se aproveitaram desta nova forma de se jogar.
Em Digimon World 2, apesar do estilo militar do jogo, trouxe a fórmula de capturar e evoluir seus monstros fora de Pokémon
Mas não foi apenas Digimon que, nestes 21 anos, reproduz a fórmula que fez as crianças tirarem a paz de casa para colecionar os games, brinquedos, fitas-cassetes/DVDs, pôsteres entre outros. Dá para se contar em uma mão os principais que se apegaram e criaram seu próprio universo. Ni No Kuni, de PlayStation 3, pode ser citado aqui, por exemplo. Um excelente RPG feito pela Level5 e pelos estúdios Ghibli, onde você controla um mago que pode reunir monstros para ajudar em sua jornada. Ou Yokai Watch, criado pela parceria das mesmas empresas e lançado para os portáteis (justamente como Pokémon).
Para homenagear os mais de 30 anos de Final Fantasy, a Square-Enix também resolveu aproveitar a onda e lançou o game World of Final Fantasy, também em 2016, para PlayStation 4, onde você se aventura por personagens conhecidos por toda a saga (que hoje reúne 15 jogos e vários spin-offs, incluindo Kingdom Hearts) e lhe permite se unir aos monstros conhecidos e batalhar ao lado deles. Além deste, a empresa já possuía a franquia Dragon Quest Monsters (que se utiliza do mesmo plot), lançado em 1998 e que permanece até os dias atuais.
Dragon Quest Monster – Joker 3, lançado em 2016, é produzido pela Square-Enix e tem seus designs produzidos por Akira Toriyama (Dragon Ball)
Todos estes jogos, apesar de mudarem a temática, mecânica e forma de apresentar os personagens e monstros, tiraram do material original sua inspiração para fazer com que cada jogador encontrasse seu lugar dentro deste universo. Pokémon, o material “original”, nunca buscou atingir estes outros mercados. Muito pelo contrário, sempre souberam qual seu lugar dentro dele e reinventaram a franquia algumas vezes, mas mantendo os aspectos que tornaram dela a número um. Algumas vezes acertando, outras errando, mas é inegável o esforço ao ver sete gerações, exatos 902 Pokémon existentes e uma temática “batida” sendo reconstruída a cada jogo lançado.
Em 1996, a GameFreak teve uma ideia original. Os demais são parecidos e até chamados de “cópias”, mas cada um tem seu charme dentro do mundo dos games. Quantas vezes não é isso que nos falta? Uma ideia original? Algo que possamos fazer que mudará o status que estamos vivendo hoje? Que crie uma nova forma de enxergar aquilo e difundir aquilo que acredito ser benéfico?
Pokémon se reinventa ao longo dos anos, implementando seu enredo e sua mecânica para continuar atraindo através dos padrões que se tornaram um clássico.
E podemos tomar como exemplo a própria Nintendo, que apesar de ver a “fórmula” sendo espalhada por todos os cantos com versões e ideias diferentes, não foi contrária ou bateu de frente com a sua própria. Eles sabem que criaram algo bom. Algo que foi benéfico a tantas gerações de gamers. Algo que trouxe milhões de crianças aos portáteis. E eles vêem que as empresas tentam manter essa chama acesa. Cada uma de sua forma, mas tentam. Isto não é um problema. Não há “substitutos”, nem “cópias baratas”. É um aspecto positivo que continuou se espalhando ao longo dos anos e nos trouxe ao momento de hoje.
Às vezes precisamos apenas de uma ideia original para mudar o mundo. Ao menos a nossa realidade ou das pessoas ao nosso redor. Quando a executamos, ela deixa de ser nossa e que se espalhe para mudar a vida de outros. Um pouco contraditório com o que já comentei em outras colunas, de repetições e fórmulas batidas. Não me entendam errado, não é que isso valha para um ponto e não para o outro. Sou um jornalista e meu “trabalho” é fazer com que conheçam os dois lados. Por um, temos padrões que não conseguimos nos livrar por não termos ideias originais. Por outro, essas ideias, ainda que continuem sendo executadas, mantém viva a chama que une alguns jogadores apaixonados por determinado estilo. E, de tempos em tempos, surge um game que muda tudo que conhecemos.
Como me encontrar na Xbox Live e na PSN?
Xbox Live: PlumpDIEGODS;
PSN: CorumbaDS