Futuro que não pode mais esperar – Parte II | Boqnews
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Opiniões

17 DE DEZEMBRO DE 2025

Futuro que não pode mais esperar – Parte II

Alessandro Lopes

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Quando dezembro chega, ele não encerra apenas o calendário. Ele coloca diante de nós tudo o que tentamos empurrar para outro momento.

A cada ano percebemos como nossa história de esperança sempre empurrou a transformação para o próximo século.

O XIX acreditou que o XX resolveria tudo. O XX depositou fé no XXI.

Agora, quase sem perceber, já começamos a imaginar que o século XXII dará conta do que evitamos enfrentar.

Transformamos o futuro em gaveta onde escondemos decisões difíceis, como se houvesse sempre mais tempo disponível.

Mas a cidade já não aceita essa gaveta. Suas ruas pedem escolhas reais. Suas encostas pedem proteção. Seus rios pedem respeito.

E a política urbana deveria ser o centro das nossas escolhas coletivas.

Mesmo assim, quando chegam as eleições, preferimos discutir por frases rápidas, fáceis de repetir, mas vazias de compromisso.

A cidade vira cenário quando deveria ser guia. Votamos como quem participa de um programa de competição, movidos pelo instante, esquecendo que as consequências vivem conosco muito além do resultado final.

É revelador notar como repetimos padrões. Muitas vezes quem chega ao poder não representa a mudança necessária, enquanto ideias valiosas são descartadas antes de existir espaço para debate.

Talvez falte coragem diante das exigências da transformação. Talvez confiemos demais na promessa de que a tecnologia resolverá o que não queremos enfrentar.

Mas dezembro, em sua simplicidade serena, lembra que nada amadurece no adiamento eterno.

A cada ano ele devolve um espelho que mostra nossa hesitação com elegância e firmeza.

A natureza, mesmo ferida, insiste em oferecer sinais de recomeço. Cada estação mostra que regeneração é possível quando abrimos caminho para ela.

A cidade também envia recados. Enchentes, calor excessivo, deslizamentos, lixo acumulado e paisagens exaustas são mensagens claras demais para serem ignoradas.

Tudo isso convida para um tipo de escuta que ainda precisamos aprender.

E assim dezembro se coloca diante de nós com uma pergunta que pertence não apenas a este ano, mas a toda uma geração. Será possível mudar o curso?

A resposta não está no século seguinte, mas no chão que pisamos agora, nos cuidados que decidimos cultivar, na coragem que escolhemos assumir.

O futuro não espera mais. Ele caminha ao nosso lado com paciência e expectativa.

E ainda acredita que somos capazes de dizer, com clareza e ação, aquilo que adiamos por tanto tempo: sim, é possível.

E começa agora.

 

Alessandro Lopes é arquiteto, professor mestre em Arquitetura e Urbanismo, pesquisador em Cidades Criativas e Inteligentes, e consultor regional do Instituto Multiplicidades

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