“O povo foge da ignorância/ Apesar de viver tão perto dela/ E sonham com melhores tempos idos/ Contemplam essa vida numa cela/ Esperam nova possibilidade/ De verem esse mundo se acabar/ Êh-oh-oh/ Vida de gado/ Povo marcado, eh/ Povo feliz”
A música Admirável Gado Novo, do cantor Zé Ramalho, tem como reflexão principal o fato das pessoas que levam uma “vida difícil”, em total desrespeito e violação aos direitos mais básicos. A letra da música se identifica com a vida que o brasileiro leva, ou, muitas vezes, gosta de levar.
O brasileiro é conhecido como um povo alegre – apesar dos vários problemas – criativo e que, na medida do possível, tenta resolver as mais diversas situações. Mas tradicionalmente está acomodado em sua zona de conforto, ou literalmente “deitado em berço esplêndido”.
O Brasil tem vivido momentos de mudanças significativas. A gravidade política e econômica aponta para a necessidade de investir na formação cultural de nossa sociedade, para que possamos fazer surgir um tempo diferente, com transformações que garantam mais justiça para todos.
Insurgência
Os protestos no Brasil em 2013 poderiam ser o momento dessa mudança. Era um desejo por mais democracia e investimentos públicos – fazendo milhões de brasileiros saírem às ruas, e fez despencar a popularidade da então presidente Dilma Rousseff e de demais políticos. Mas parou por aí.
Acredito que contra a raiz da corrupção, os malfeitos de políticos e a impunidade dos criminosos só existe uma arma: a rejeição total por parte da sociedade, manifestando sua indignação.
Falta de indignação que fica explícita ao observarmos a passividade da população com a situação vexatória que envolve os moradores de São Vicente e a interdição da Ponte do Barreiros, com risco iminente de despencar.
Imunização
A Prefeitura de São Vicente contratou um serviço de carrocelas – sistema de transporte com pedal para levar as pessoas que desejam passar pela ponte, enquanto esta seguir interditada. O serviço vem sendo usado, pasmem, com alegria pela população.
Milhares de pessoas estão sem transporte público decente, sem acesso ao trabalho, saúde, afetando o comércio local, ou seja, literalmente ilhadas na Área Continental. Seria cômico se não fosse trágico.
As carrocelas até que para a travessia ajudaria (já que não há outro jeito) se houvesse a certeza de que essa ponte não vai desabar a qualquer momento.
Enquanto isso, não há um músculo da sociedade em movimento se indignando, cobrando uma solução imediata, tampouco os políticos se importam com essa situação: empurram a responsabilidade um para o outro e dane-se se aquilo aguenta uma bicicleta ou um caminhão.
Peço a Deus que isso não aconteça. É a falência do Estado como um todo.
Apenas ignorar os políticos, sem acompanhar, cobrar e se indignar é passo rumo à decadência da sociedade. Essa é a nossa responsabilidade democrática e, fugir disso, é deixar os lobos tomarem conta do galinheiro.