Apesar de já estar a mais de dois meses à frente do Governo, o presidente Lula e principais lideranças petistas continuam a perpetuar as retóricas comumente utilizadas nos períodos eleitorais, centradas nas críticas contumazes aos principais opositores.
Principalmente com o uso da conhecida estratégia que visa desconstruir imagens e atribuir a terceiros toda a culpa por não conseguir cumprir a contento as promessas assumidas na campanha.
Assim, assuntos menores são superdimensionados, enquanto que temas de maior relevância permanecem distantes dos holofotes midiáticos para que não sejam incluídos na pauta de prioridades e sejam cobradas pela população.
É certo que erros cometidos por opositores de administrações passadas devam ser corrigidos e os responsáveis por eles sejam responsabilizados com todo o rigor da lei vigente.
Contudo, seria de maior valia ao atual Governo concentrar todos os esforços visando mobilizar as esferas administrativas em torno de um projeto realista e sustentável dirigido a atender as demandas sociais há muito conhecidas.
Até o momento, a falta de diretrizes claras e as muitas contradições conhecidas que caracterizam as administrações petistas lançam dúvidas sobre as reais intenções de Lula em seu terceiro mandato.
Pelo que se viu até aqui, os desafios que Lula deverá enfrentar para alcançar as metas preconizadas em sua campanha são muitos.
Especialmente diante da necessidade de conquistar o apoio da maioria do Congresso para os projetos e reformas pretendidas para sua gestão.
Nesse contexto, a propalada reforma tributária, se colocada efetivamente em curso como se prenuncia, pode se tornar um importante instrumento de justiça social e de distribuição de renda, a partir da desoneração das famílias de menor poder aquisitivo das cadeias produtivas responsáveis pelo comércio de alimentos e mercadorias de primeira necessidade.
Já é mais do que hora da classe política dedicar esforços para aliviar o peso dos impostos e encargos que recai principalmente sobre os trabalhadores e das micro e pequenas empresas, há muito penalizadas por um sistema tributário arcaico que necessita ampliar a base de arrecadação para cobrar de muitos o que hoje é pago somente por poucos.
Da mesma forma, se torna igualmente urgente e relevante no atual momento, os eleitos descerem do palanque para promover uma ampla reforma administrativa visando reduzir as muitas mordomias e despesas fúteis mantidas – e por vezes ampliadas – do Executivo e demais poderes institucionais, garantindo o equilíbrio fiscal e os recursos necessários para a melhoria das condições de vida dos brasileiros.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação