Jogo de palavras | Boqnews

Opiniões

05 DE DEZEMBRO DE 2013

Jogo de palavras

Por: Da Redação

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A política tem uma relação de conflito com a palavra. Uma
espécie de Complexo de Édipo, em versão pervertida. Políticos dependem dela
para sobreviver. Discursos, sedução, convencimento, negociação.
 Ao mesmo tempo, a palavra vale tão pouco
quando usada na política partidária. O valor cai ainda mais, como ações em
blackout, com o cheiro mais próximo das eleições. Alianças, acordos, acusações,
manipulação e promessas.

Numa época em que políticos viraram produtos e os partidos,
itens de prateleira que, embora parecidos, podem ser trocados pelos
vendedores-candidatos, a palavra se transformou em bijuteria. Enfeita a imagem
de alguém que deseja reescrever os fatos conforme as aparências indicam.

Nas últimas semanas, há vários casos, em todos os níveis,
que reforçam os jogos de palavras, símbolos da luta para reduzir o impacto de
atos impopulares ou simplesmente construir heróis que, na prática, merecem
algemas e grilhões.

Na política nacional, o maior exemplo é o braço erguido de
gente como José Genoíno e José Dirceu, que mancharam o passado com o mel do
poder. A definição de preso político soa como piada pronta em um país que
ironiza e si mesmo.

Como
esperar que, numa democracia, tenhamos presos políticos? Como delirar e
acreditar que membros de um partido no poder há 11 anos, na mesma democracia,
possam ser classificados como pessoas perseguidas? Ainda bem que a imagem se
desfaz na inversão das palavras: políticos presos. Só falta, agora, Valdemar da
Costa Neto, o colecionador de renúncias, seguir a moda e também levantar o
braço como um pantera negra dos anos 70.

Em
São Paulo, o Governo estadual se esforça para manter o armário trancado. Aqui, os
esqueletos tentam escapar via metrô e trens. Em São Paulo, o esquema de
corrupção ganhou o nome de cartel, que minimiza a conivência e a cumplicidade
de figuras públicas em um desvio inesgotável de uma década e meia. Os tucanos
se balançam na árvore, acusam os adversários, tentam desviar o foco por meio de
e-mails sem assinatura ou juram processar as empresas corruptoras.

Em
Santos, o IPTU aumentou 100%. No jogo matemático, traduzido em palavras, o
reajuste foi de 12%, com um desconto de 88%. Vereadores mais ousados no
palavrório se arriscaram a falar em atualização de valores, descartando a
omissão política frente à especulação imobiliária. Nada que convencesse os
eleitores de que não houve falta de compromisso. Os parlamentares receberam de
volta um rosário de queixas.
 

Nesta
semana, a Câmara Municipal ficou lotada por conta de outro projeto, que
transfere para Organizações Sociais (OS) serviços em áreas essenciais como
educação e assistência social. Para o Sindicato dos Servidores Municipais, é privatização
com risco de exoneração de funcionários públicos.

Para
os que apoiam a administração municipal, é uma necessidade para salvar os
cofres públicos, que batem no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. E as
OSs teriam à disposição servidores municipais, que não perderiam empregos. Em
outras palavras, com o perdão do trocadilho, os funcionários públicos
trabalhariam para empresas privadas, pagos com salários do contribuinte, que
espera por serviços públicos de qualidade?

Os
políticos vivem entre palavras sofisticadas. Comissões, projetos executivos,
planejamento, aditamento (mais dinheiro) de obras, realocação, cadastramento. Neste
dicionário, palavras são versáteis. Até porque, na política, palavra não é para
ser cumprida. 

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