A quantidade de jovens abandonados nas ruas preocupa!
Eles estão nas esquinas, nos cruzamentos, nos cantos escuros e obscuros da vida, salvo exceções, condenados à violência implacável da lei do mais forte: presas fáceis e por vezes definitivas do vício, do crime.
E para sobreviver nesse meio, às vezes se perde a identidade, a humanidade.
Por que estão nas ruas?
Bem, alguns já nasceram assim, gerados por quem já subsistia nelas.
Outros fugiram da violência no lar ou foram abandonados no lixo ou nos córregos do egoísmo, do desespero, do despreparo, da inconsequência.
Alguns encontram quem lhes dê carinho, cure as feridas e os reconduza à vida.
Outros, muitos, caem nas garras de quem explorará sua fragilidade até o limite.
Isso tende a transformar amor-próprio em ódio-impróprio, que chocará, intimidará e agredirá, como forma de reação contra uma orfandade não natural, uma sociedade que os despreza, uma humanidade que não os reconhece como seres humanos.
Eles são vítimas da promiscuidade, da falta de programas sociais ou do capitalismo selvagem?
Alguns são, mas nem todos.
Também existem jovens “abandonados” de famílias da classe média ou rica.
Eles têm pai e mãe conhecidos, mas ausentes, mesmo quando presentes.
Esses jovens também estão sozinhos, largados pelas ruas.
Eles vagam pelas noites celebrando e compartilhando seu abandono individual em grupos que pouco se importam com o mundo à volta deles.
Riem, gritam e falam alto até altas horas da madrugada, mesmo debaixo de chuva, como se a noite fosse o seu dia e a pior tormenta fosse voltar para casa.
Para ajudar nessa fuga, esperam que um “amigo” mais velho chegue com uma garrafa de bebida alcoólica, um maço de cigarros ou coisa pior, para que, entre acessos de tosse e constrangimentos irônicos, promovam um viciante pseudo “rito de passagem”.
Esses jovens abandonados não andam maltrapilhos. Pelo contrário, usam roupas da moda, acessórios e equipamentos caros.
Eles não foram deixados em portas, nem fugiram da violência física familiar; mas parecem igualmente solitários, ainda mais quando juntos, pois agem como se estivessem sós.
Talvez procurem na rua o que não encontram no lar; tenham dinheiro para gastar e vontades feitas, mas ninguém com quem dialogar francamente ou quem lhes imponha saudáveis e necessários limites; quem os eduque, enfim!
Então, como não são percebidos em casa, fazem de tudo para serem notados na rua, incomodando quem nada tem a ver com seu estado de “abandono”.
Assim, essa liberdade financiada parece uma forma de pais omissos pagarem pelo seu sossego.
Se for assim, ignoram que a conta tende a aumentar como uma bola de neve a rolar montanha abaixo.
Quem sabe sejam pais estressados pelo trabalho insano, pelas cobranças da sociedade de aparências em que vivemos.
Tudo lhes importa, menos o que seus filhos fazem longe de seus olhos ou mesmo diante deles.
Talvez só notem quando já for tarde demais.
Nada justifica esse tipo de abandono, pois a presença de pais atentos, amorosos e educadores é fundamental para o desenvolvimento do ser humano; e a família continua a ser base da sociedade, embora o mundo atual insista em celebrar a vaidade, o consumismo e o egoísmo.
Os jovens que vivem e dormem nas ruas contam com a atenção paliativa de alguns governos, de algumas igrejas, de algumas ONGs, de algumas almas caridosas.
Além disso, eles estão nessa condição por contingências, falta de chances.
Alguns conseguirão, se tiverem oportunidade e apoio, constituir suas próprias famílias e, seguramente, não abandonarão seus filhos.
Trarão consigo a lição que aprenderam nas ruas!
Mas nem tudo se aprende nas esquinas, becos e baixos de pontes. Assim, vale um lembrete para pais e mães:
Qualquer que seja a classe social, não há jovem mais abandonado do que aquele que vive nas ruas sob a “benção” da indiferença paterna!

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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