Lucky Tattoo | Boqnews

Opiniões

14 DE JANEIRO DE 2016

Lucky Tattoo

Por: Da Redação

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tatuagemluckyIt’s not a sailor if he hasn’t a tattoo (Não és um marinheiro se não tiveres uma tatuagem). Esta chamada, inscrita numa pequena placa de madeira, tornou-se um marco da área portuária de Santos, mais especificamente na badalada Boca, zona de boemia e prostituição consolidada no quadrilátero final do bairro do Paquetá, que tinha como eixo central a rua General Câmara. A peça traduzia o marketing promovido pelo dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen, com o objetivo de fisgar seu público-alvo primário, justamente os homens do mar que circulavam em profusão nas cercanias do negócio que ele abriu quando desembarcou pelo mesmo cais, em 20 de julho de 1959.

Em sua bagagem, Knud Gregersen trazia uma história de 31 anos de vida, na forma de dezenas de viagens aventureiras e os ensinamentos técnicos do pai, um dos mais conhecidos tatuadores da Dinamarca dos anos 1930 e 1940, Tatto Jack. Decidido a fincar raízes no Brasil, Knud adotou um codinome: Lucky (Sortudo, afortunado), talvez como uma crença, e esperança, de ser bem-sucedido na nova terra, e lar.

Na delegacia de imigração ainda teve que explicar aos agentes o que fazia aquela estranha máquina de pintura. “É para gravar a pele, tatuar imagens no corpo”, teria dito o dinamarquês aos curiosos brasileiros. Lucky passou sem problemas pela burocracia governamental e, livre das amarras, finalmente estava diante de Santos, cidade historicamente de vanguarda, para se tornar mais um de seus pioneiros, neste caso, da tatuagem no Brasil.

Em poucos dias, alugou uma pequena loja na Rua João Octávio, nº 2, perto da área mais agitada da Boca. Logo depois mudou-se para a General Câmara, onde ganhou fama e passou a tatuar os estrangeiros de passagem pelo porto santista. Knud sabia que sua clientela mais forte era mesmo o homem do mar, assim como na sua terra, a Dinamarca, lar ancestral dos vikings, povo que tinha o costume da tatuagem. “It’s not a sailor if he hasn’t a tattoo”. A frase marqueteira de Lucky ficou famosa na cidade, ainda mais amparada pelo personagem de desenho animado Popeye (criado no final da década de 1920), que convalidava a máxima de que “marinheiro que é marinheiro tinha de ter uma tatuagem!”

Lucky foi ganhando fama nacional e internacional. Ele tatuava no fundo da loja e na frente vendia souvenirs, lembranças recolhidas nos 42 países que percorreu antes de se fixar no Brasil. Na época também, muitos caminhoneiros iam até o estúdio para marcar o corpo com imagens de Nossa Senhora Aparecida, Jesus Cristo e cruzes para proteção. Os jornais e revistas o consideravam o primeiro e único tatuador da América do Sul, nos anos 1960.

O auge da fama de Lucky aconteceu nos anos 1970, quando começou a tatuar outra espécie de homens do mar, os surfistas. Um deles, o carioca José Artur Machado, o Petit, se tornara símbolo de uma geração de jovens bronzeados de Ipanema, imortalizado por Caetano Veloso na música “Menino do Rio”, sucesso nacional na voz de Baby Consuelo. A estrofe inicial logo indicaria o estilo de vida daquela geração: Menino do Rio/Calor que provoca arrepio/ Dragão tatuado no braço/ Calção corpo aberto no espaço. O santista Lucky foi o responsável pelo dragão de Petit.

Knud Gregersen ficou por vinte anos na cidade e era um dos protegidos da Boca. Mas um marginal desavisado resolveu assaltar seu ateliê, e Lucky, desgostoso, resolveu fazer as malas e partir da cidade, para nunca mais voltar. Foi primeiro para Itanhaém. Depois para Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, onde faleceu, aos 55 anos de idade, em 17 de dezembro de 1983.

A trajetória de Lucky Tattoo foi tão marcante que o dia 20 de julho (a data em que ele chegou ao Porto de Santos) foi escolhida para ser o Dia Nacional do Tatuador.

*Texto reproduzido do site Memória Santista

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