Mães e filhos | Boqnews
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Opiniões

09 DE MAIO DE 2024

Mães e filhos

Adilson Luiz Gonçalves

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Há algum tempo, uma amiga, sem explicar o motivo, me perguntou: “Se sua esposa tivesse que optar entre salvar a sua vida ou a de seu filho, qual opção ela escolheria?”.

Minha resposta foi imediata: A de meu filho!

Ela sorriu e explicou que o motivo do “teste” era um conhecido comum.

Ele lhe contara que havia feito a mesma pergunta a sua esposa e, ao ouvir que ela não optaria por ele, ficou profundamente perturbado e frustrado, pois esperava uma resposta que considerasse toda uma história de companheirismo, cumplicidade e amor entre os dois.

Confesso que também fiquei surpreso, mas com a atitude e expectativa dele!

Primeiro, porque é muito cruel propor esse tipo de questão para uma mãe.

Segundo, porque eu nem precisaria perguntar isso para saber a resposta.

Terceiro, porque os filhos são trazidos à vida pelos pais.

Daí, nada mais justo que os pais sejam responsáveis pela preservação dessas vidas.

Quarto, porque ele estava bem acima do peso e seria difícil sustentá-lo por muito tempo.

Os laços de amor entre um homem e uma mulher podem ser extremamente fortes, mas nunca chegarão sequer perto dos que unem mães e filhos, a começar pelo momento mágico da concepção.

Some-se a ele nove meses de coabitação física e espiritual num mesmo espaço corporal, compartilhando o mesmo alimento, relativizando o princípio da Física segundo o qual dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo.

Essa ligação tão íntima não se rompe quando o cordão umbilical é seccionado!

Podemos conhecer muito bem a mulher que amamos, mas só um filho pode afirmar que a conhece por dentro!

E isso nada tem a ver com o Complexo de Édipo, pois é algo muito mais próximo do espírito do que da matéria.

Afinal, se elas já dão a vida para que eles nasçam e vivam, o que as impedirá de fazê-lo novamente?

Inesperado e frustrante é ver uma mãe mandar um filho à morte ou festejar sua perda, por mais nobre que tenha sido o motivo.

Na verdade, diante do inevitável, a mãe morre um pouco com ele.

Enquanto o homem pensa no presente, egoísta, a mulher também o faz, mas sem descuidar do futuro.

O raciocínio é simples e objetivo: pouco ou nada eu terei para acrescentar à vida, por mais que eu me esforce, mas uma criança terá ao menos uma geração pela frente para tentar. Isso é lógica pura, nos dois sentidos!

As mulheres são capazes de amar infinitamente, enquanto nós ainda não aprendemos a lidar direito com isso. Se existe tanto amor disponível por que querer um quinhão maior do que o infinito? Uma gota desse oceano já basta!

Sobre esse conhecido comum, o fato dele ficar frustrado não diminuiu seu amor pela esposa.

Quem sabe ao pensar, num primeiro momento, em correr para o colo de sua mãe, ele próprio tenha entendido a tolice de sua pergunta.

Hoje, recuperado dessa ilusão de primazia sentimental, seu amor pelos filhos e pela esposa deve ser, seguramente, muito maior.

Também deve ter concluído que são amores diferentes, onde não cabem ciúme, cobranças, competições ou testes.

Pelo contrário, cada um deve aprender a dar o máximo de si, sem exigir retribuição, pois ela vem naturalmente. Isso se chama família!

No mais, se os procedimentos internacionais de salvamento já sentenciam: “Mulheres e crianças primeiro!”, quem somos nós para contrariá-los?

Além disso, a morte é uma incógnita, embora seja a certeza da existência.

É impossível saber quem estará disponível para nos dar a mão!

Talvez não seja ninguém conhecido. Talvez sejamos somente nós e Deus.

O que vale, portanto, é estarmos de mãos dadas na vida!

 

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras

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