O triste espetáculo protagonizado por candidatos que disputam prefeituras em importantes cidades brasileiras, com trocas de acusações levianas e atos de violência física, como ocorrido na capital paulista, reforçam a ideia de que, mais do que nunca, há necessidade de realização de uma ampla reforma do sistema eleitoral brasileiro.
De modo geral, ao longo dos anos, as campanhas guiadas por marqueteiros e potencializadas com o surgimento das redes sociais, têm dedicado generosos espaços para desconstruir adversários ao invés de dedicar os valiosos espaços gratuitos cedidos no rádio e na televisão para apresentar propostas e soluções para os muitos problemas enfrentados pela maioria da população brasileira.
Soma-se a isso o elevado grau de oportunismo e despreparo apresentado pelas candidaturas, pleiteando cargos para os quais não serão capazes de assumir com a qualidade e a competência necessárias exigíveis para o exercício de qualquer função pública.
Da mesma forma, o excessivo número de partidos hoje existentes no Brasil atesta o fracasso do sistema político em vigor.
Valorizadas sob a premissa equivocada que pretendeu atribuir relevância aos programas e teses ideológicas, as agremiações partidárias se transformaram em ótimos negócios sustentados por grandes montantes de recursos públicos.
Mesmo que reconhecidos os avanços na organização das disputas pelos cargos eletivos, o processo necessita ser aperfeiçoado para que possa ostentar, em toda a sua amplitude, os princípios de representatividade e legitimidade inerentes ao regime democrático.
Torna-se imprescindível, portanto, a revisão das normas que orientam a criação e manutenção das legendas partidárias, os critérios de proporcionalidade estabelecidos para a formação dos legislativos e, notadamente, de valorização da fidelidade aos ideais e conteúdos programáticos defendidos pela agremiação política.
A excessiva personificação das candidaturas, como se vê no momento, favorece o surgimento de falsas lideranças e concentra nas mãos de poucos as decisões de relevância para a sociedade, subtraindo assim a possibilidade de participação organizada das comunidades interessadas.
O desinteresse e a omissão em relação às questões políticas tornaram férteis os espaços para a proliferação da corrupção e perpetuam a existência dos maus políticos, tornando mais distantes as soluções dos principais problemas enfrentados pela coletividade.
O papel de agente participativo e fiscalizador deve ser cumprido pelo eleitor de forma efetiva e contínua para evitar o processo de mediocrização em curso, que coloca em risco os alicerces da nossa democracia.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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