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Opiniões

11 DE MAIO DE 2014

Miséria humana

Por: Fernando De Maria

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Não tenho Facebook, meu Twitter está desatualizado há meses. Impressiona-me como os jovens têm agilidade em teclar pequenas letras para enviar uma mensagem para alguém. Particularmente, demoro minutos para enviar algo em parcas linhas. Em um curso da Agência Nacional de Direitos da Infância – ANDI na USP voltado a jornalistas, fui o único da sala (com mais de 50 profissionais) que não tinha o ‘face’. Enfim, reconheço. Sou um pré-histórico digital.

No entanto, por questões profissionais, frequento as redes sociais como curioso e pesquisador e reconheço sua potencialidade. Efetivamente, a Terceira Onda prevista em meados do século passado por Alvin Tofler é uma realidade, onde estamos cada vez mais conectados pelas mais variadas formas.

E é nas redes sociais – a nova droga legal do século 21 – que as pessoas expressam opiniões, defendem pontos de vista, compartilham imagens e emoções. Mas também lançam injúrias, difamações e acusações. Expressam suas ignorâncias, iras e cometem crimes. Virtuais ou reais.

O linchamento que vitimou a dona de casa Fabiane Marie de Jesus espancada até a morte por moradores no Bairro de Morrinhos, região periférica em Guarujá, na última semana, sintetiza o atual cenário de ignorância e desrespeito com o próximo.

Confundida por uma imagem de uma suposta sequestradora de crianças disponibilizada nas redes sociais e alimentada por uma onda de boatos, Fabiane foi a vítima da vez. Era inocente e sua única culpa foi a de ter sido confundida pela imagem da suposta sequestradora.

Um vídeo com cenas fortes disponibilizado na internet sobre o crime – afinal, se não for registrado pela sociedade do espetáculo, o fato não existe – revela a face mais real da miséria humana, cercada por ignorância e insensatez. Um dos presos participantes do massacre teve a desfaçatez de reconhecer que não sabia se Fabiane era inocente ou não. Mas foi no embalo da banalização da violência.

Infelizmente, casos como este estão se tornando frequentes. E ganham repercussão, pois alguém filma ou escreve algo contra um oponente e lança a imagem na Internet. De forma viral, a mensagem multiplica-se em uma velocidade gradativa. Nem sempre, porém, o que se vê ou lê é real. Pode ser um factóide ou fake, termo usado nas redes digitais. Assim, qualquer um está exposto .

Tais fatos são reflexo do atual estado de ânimo da sociedade brasileira, cansada de assistir a denúncias de corrupção das mais variadas escalas, violência social e policial, morosidade judicial e o fortalecimento dos poderes paralelos marginais que ocupam espaços cada vez mais graúdos na pirâmide social. Sem saída, a população busca então fazer a justiça com as próprias mãos.

Destaque ao poder da comunicação neste processo. Não raro, a mídia alimenta preconceitos e estimula atos violentos. Programas populares nas TVs, com apresentadores alimentando o ódio e o preconceito, são exemplos. E as redes sociais fortalecem, mentem e repercutem aleivosias. Um perigo cada vez mais recorrente e preocupante.

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