Narciso e o espelho | Boqnews

Opiniões

24 DE OUTUBRO DE 2015

Narciso e o espelho

Por: Fernando De Maria

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Quem lida com números sabe que eles podem ser interpretados das mais variadas formas. Se um copo está com água pela metade, significa que ele está 50% cheio ou vazio, dependendo do ponto de vista de quem vê. A opinião muda de acordo com a linha de raciocínio.

Neste sentido, o midiático secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, adora disparar números para mostrar que a Baixada Santista vem apresentando “ótimos níveis de criminalidade”, como costuma dizer à Imprensa. Ele se baseia em uma enxurrada de percentuais para explicar que vivemos no paraíso – como dá a entender – pois praticamente todos os gráficos divulgados mostram queda de crimes, com redução no total de homicídios (-9%) e latrocínios (-26%) neste ano, só para citar alguns exemplos da nossa paz coletiva (?).

Pergunte ao cidadão comum, porém, se ele tem a mesma sensação do sr. Moraes, que como secretário tem segurança própria e adora posar para fotos (basta acessar o site da pasta e notar que ele aparece em três das cinco imagens que estão na home do site).

Tomando como base os números divulgados pela secretaria (o que permite ao cidadão indagar se realmente são 100% confiáveis), os indicadores da violência diminuíram nos nove primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado na região de Santos, que inclui a Baixada Santista e o Vale do Ribeira.

Ao confrontar com alguns itens por cidade, porém, percebe-se que apesar da melhora geral dos indicadores em vários tópicos, existem itens que realmente tiveram um aumento no volume de casos, desmitificando o ‘estado de graça’ que a região vive em relação à violência.

Quem ainda não foi vítima ou conhece alguém que já foi assaltado ou furtado? O que dizer dos constantes assaltos que ocorrem na Via Anchieta sem que haja uma solução definitiva para o assunto, onde há reforço policial apenas momentâneo e com o passar do tempo os usuários ficam à mercê da sorte? E como estão as periferias das cidades da região, onde o tráfico se faz presente? Sossego?

Entre os crimes cometidos, Guarujá e São Vicente apresentaram quedas na maioria dos itens. Cubatão registrou crescimento de 24,2% nos roubos de veículos, passando de 293 para 364 na comparação janeiro-setembro/14 com o mesmo período atual.

Santos também registrou crescimento de 23,7% no total de tentativas de homicídios (de 38 para 47) e estupros (de 30 para 33). A situação mais complicada ocorre em Praia Grande. Aumento no número de homicídio doloso em 17% (de 23 para 27), do roubo de veículos em 10%, passando de 768 para 844 e do furto de veículos, em 35%, de 569 para 768 registros.

Ou seja, os números mostram que o mundo não é tão rosa como o secretário pinta à Imprensa. Não bastasse, sabemos que muitas vítimas sequer prestam queixas, por pressão, medo ou pelo atendimento sofrível e demorado nas instalações precárias das delegacias.

Afinal, Narciso acha feio o que não é espelho, já diria Caetano Veloso. Enfim…

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