A política é a arte
do transitório. Nenhuma vitória é definitiva, assim como nenhuma derrota
enterra carreiras eleitorais. No Brasil, as alianças políticas são, por vezes,
tão improváveis não apenas no sentido ideológico -, que servem como mágica
para ressuscitar quem era dado como morto.
Em outubro do ano passado, o deputado federal Márcio
França, sofreu indiretamente a maior derrota de sua biografia. Depois de
uma campanha afogada na soberba e sustentada por pesquisas eleitorais, França
assistiu de camarote à derrota do filho Caio na disputa pela Prefeitura de São
Vicente, a maior surpresa do processo eleitoral na Baixada Santista.
Uma dinastia de 16 anos ruiu em apenas uma hora, com o grito
eletrônico das urnas, vindo da Área Continental da cidade. O atual prefeito
Luiz Cláudio Bili reconheceu, na noite da vitória, que parte dos votos eram contra
o menino-herdeiro. Pai e filho conviveram com o silêncio por oito meses até a
digestão (talvez parcial, talvez completa) do desastre.
Um ano depois, Márcio França deixou sem escalas o
gabinete de uma secretaria estadual coadjuvante para entrar nos holofotes da
principal e mais improvável aliança política da corrida para a presidência. O
ex-prefeito de São Vicente usou linhas e agulhas e ajudou a costurar o acordo
que levou Marina Silva ao PSB.
É óbvio que nenhuma aliança deste porte depende de um único
costureiro. O próprio Márcio França não esperava, como disse à revista Piauí. Convidei
ele (Walter Feldmann) e a Marina. Convidei por educação porque ninguém
imaginava que ela fosse.
O fato
é que o deputado federal soube capitalizar para si a autoria da obra, sem que
ninguém em seu partido dissesse o contrário. A vitória retomou o planejamento
(e sonho de consumo) do atual secretário estadual de Turismo: ser
vice-governador do Estado.
Como ainda restam 10 meses e meio para as eleições, a
política é ainda líquida, flexível e aberta às negociações. Márcio França
precisa quebrar pela segunda vez a falsa fragilidade de Marina Silva, que
acena com candidato próprio para o Governo de São Paulo. Um nome nascido dentro
de casa é, definitivamente, mero figurante na disputa, ao mesmo tempo em que sepultaria
por hora o sonho do ex-prefeito de São Vicente.
Marina Silva, apesar da filiação ao PSB apontar o
contrário, age com a lógica. Como enfrentar os tucanos na eleição presidencial
e estar de braços dados com eles no principal Estado? Abraçar Alckmin e fingir
que não enxerga Aécio Neves no mesmo palanque?
Já Márcio França aposta na vida real. Nela, acordos não
dependem de partidos, ideologias, legislação ou distância geográfica. Acordos
dependem de projetos de poder. O ex-prefeito de São Vicente tem no PSB, um novo
morador que se encaixa como exemplo. Vicente Cascione foi, na Câmara dos
Deputados, vice-líder do Governo Lula, enquanto em Santos seguia como tradicional
adversário de Telma de Souza, do mesmo PT.
França tem que correr para alinhavar que tipo de roupa
pretende usar na festa de outubro de 2014. Vice-governador da dinastia tucana?
Reeleger-se deputado federal como Plano B? Ou permanecer na condição atual,
como chefe de uma secretaria de visibilidade política relativa?
O problema é que a aliança que o alçou à condição de
costureiro competente pode se virar contra o feiticeiro. Por um lado, Márcio
França tem que reconhecer que Marina Silva, embora magrinha, veste número maior
no guarda-roupa político nacional. Por outro, aprendeu, na cidade onde nasceu
para a vida pública, que nenhuma tendência desfila eternamente na passarela
eleitoral.
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