Creio que muitos devem lembrar daquela charadinha do elevador: “Um prédio tem 12 andares e cada andar é um mês do ano. Como se chama o elevador?”, cuja resposta esperada é: “Apertando o botão!”. Porém, nem tudo é tão simples, atualmente.
O elevador, além de um eficiente meio de transporte vertical, evoluiu significativamente ao longo do tempo, sobretudo em termos de tecnologia.
Hoje, já não é preciso apertar botões, nem repetir isso várias vezes, como alguns apressados ou neuróticos costumam fazer compulsivamente, como se isso fizesse o elevador chegar mais rápido. Tampouco é necessário acionar todos os elevadores disponíveis.
No estágio atual, é comum encontrar elevadores acionados por cartões, que já nos deixam no andar desejado. Também é comum encontrar os equipamentos inteligentes que – frustrando os “gamers” de botoeiras, que creem que isso lhes dá sensação de poder sobre a máquina – acionam apenas o elevador mais próximo, economizando energia e racionalizando tempos.
Mesmo assim, eles sempre terão o consolo de poderem apertar o botão de fechamento das portas assim que entram, independentemente de verificarem se todos os usuários já entraram no elevador. Que o santo protetor dos sensores de presença os proteja!
Essa compulsão por apertar botões parece uma evolução do “apertar campainhas e sair correndo”, a não ser pelo fato de que não se corre e fica claro quem apertou, o que a torna menos pueril.
Caso essas suposições sejam verdadeiras, que os exames psicotécnicos incluam essa testagem a postulantes à função de controle de instalações lançadoras de mísseis nucleares!
Mas essa obsessão não fica restrita apenas ao apertar botões até que números e letras fiquem ilegíveis – o que deve ser o motivo de novas versões de elevadores terem a indicação de pavimentos ao lado deles – ou ao desaparecimento de impressões digitais. Por conta de acidentes – alguns fatais -, vários estados criaram leis obrigando à colocação ao lado de elevadores da frase: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado no andar”.
Também poderia haver outra, no interior dos elevadores, alertando: “Antes de sair, verifique se o elevador está no andar desejado”; e mais uma, fora, exortando: “Antes de entrar no elevador, deixe os que estão nele saírem!”, o que poderia ser substituído por um anúncio sonoro: “Deixa saírem primeiro, p…!”. No mais, ressalte-se que é muito mais comum uma pessoa que sofra de claustrofobia querer sair abruptamente do elevador.
Mas também há questões técnicas envolvidas:
Os fabricantes informam claramente, em quantidade de pessoas e peso, a capacidade dos elevadores, sendo que vários contam com sensores que, caso haja sobrecarga, não permitem sua movimentação. O entrar antes de deixar sair potencializa essa sobrecarga, embora em curto lapso de tempo.
Independente disso, lotar elevadores é uma irresponsabilidade que não se justifica pelo “sempre cabe mais um”, mesmo que se utilize o desodorante da antiga publicidade. Além do mais, em tempos de pandemia a limitação de usuários de elevadores passou a ser ainda mais restrita.
Em suma: respeito ao próximo e uma mínima noção de civilidade já resolveriam o problema.
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, professor universitário e membro da Academia Santista de Letras