O político-pastel | Boqnews

Opiniões

05 DE SETEMBRO DE 2012

O político-pastel

Por: Da Redação

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Caro leitor (eleitor) desconfiado, esta semana testemunhei dois
espécimes-candidatos vagando – por sorte, só dois – pelas feiras livres. Por
causa disso, me lembrei de um texto que julgava ter escrito há dois anos.
Alguns destes espécimes poderiam falar em autorretrato biológico
comportamental, pois – para agradar – vale qualquer expressão pretensiosa e
bajuladora.

 O texto se mantém atual,
infelizmente. Mas tenho que confessar um engano, votante leitor. O texto tem
quatro anos de vida. É de setembro de 2008, o que reforça nossa tragédia
eleitoral. Abaixo, o flagelo de quem esbarra neles quando pretendia somente
comprar meia dúzia de tomates para o almoço.

++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

O retorno é discreto, coerente com o desaparecimento por quatro anos. A
conversa, de pé de ouvido, nasce amistosa. Quem ressuscitou finge interesse e
estimula o interlocutor a conduzir – de maneira ilusória – o diálogo. O tom
baixo de voz contrasta com os berros dos vendedores que precisam atrair os
desconfiados clientes.

O visitante, tal um elefante em loja de cristais, sabe da má reputação
de seus colegas (ele sempre se considera exceção) e, por isso, precisa de
paciência para conquistar quem tende a considerá-lo fruta de final de feira.

O estranho no ninho não trabalha como um
solitário. O sonho é transparecer onipresença. Um exército de aliados de
ocasião foi contratado, devidamente equipado com bandeiras, camisetas e pilhas
de papéis cujo nome derivou da religião. Os “santinhos” também estão nas mãos
dos que atuam como voluntários. Trabalhar de graça não merece canonização;
estes apenas aguardam o melhor momento para cobrar a nomeação pelo sagrado
esforço.

O visitante não assume responsabilidades. É um
bom ouvinte, palpita na hora certa e aproveita a idéia do novo amigo para
propor soluções que oferece como inéditas ou criativas. Não se importa em
parecer contraditório, pois as palavras se perdem entre as caixas de tomates e
alfaces.

O candidato a vereador, este que aparece na
feira livre de vez em nunca, pode ser detectado de longe. Bem vestido, ele não
carrega os utensílios básicos para a sobrevivência neste local com origem na
Idade Antiga. A fantasia pode incluir uma calça social e sapatos – para
transmitir elegância – ou um jeans, camiseta e tênis básicos, com ar de
casualidade, proximidade com as pessoas que não o conhecem ou não se importaram
em reclamar do desaparecimento.

A ordem é chegar como se não houvesse passado.
Distribuir “santinhos” é papel dos soldados – educados, por sinal. O candidato
distribui “afeto”. Corpo a corpo, apimentado por sorrisos. Beijos, abraços,
apertos de mãos indicam um flerte no qual o alvo não precisa ter nome, mas
título de eleitor. É importante a disposição para receber um afago na cabeça ou
levar um bebê para que o visitante o pegue no colo.

A feira livre é um ponto democrático. Não cobra
status. Você pode somente perambular por lá ou conversar com quem quiser sem
ser importunado. Os feirantes, folclóricos e criativos nas rimas, exalam
cultura popular, além de oferecer produtos tradicionais e exóticos, com preços
a serem barganhados com bom humor.

Vendedores e compradores que se conhecem há anos compartilham
confidências, sentem falta um do outro quando a ausência é superior a uma
semana. Todos assistem com resignação aos visitantes que renascem na eleição,
conversam, soam (e suam!) preocupação e somem por encanto. 

Com sabedoria, um amigo comparou estes
personagens ao pastel da própria feira livre. Compõe o cenário, não representa
unanimidade entre feirantes e consumidores e costuma ser recheado de vento.
Neste último caso, basta ouvir as propostas (promessas) de alguns concorrentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.