O ser humano se adapta à rotina e resiste à mudança.
Natural, porque toda mudança é traumática.
Mas ninguém segura a ventania com as mãos.
Principalmente quando ela é um verdadeiro tsunami, como aquele produzido pela profunda mutação gerada pelas tecnologias da comunicação e informação.
Há setores que absorvem os avanços e obtêm formidáveis resultados. A saúde, por exemplo.
Hoje, a telemedicina é uma realidade insubstituível.
Há prontuários eletrônicos, exames que são localizados em bancos de dados e que dispensam a impressão das imagens e diagnósticos, a carteira de vacinação digital, o ConectSUS, aquele aplicativo que contém toda a trajetória do usuário no SUS.
Isso é muito bom e deveria ser utilizado em outros setores.
O universo do sistema Justiça é um dos mais conservadores e ainda se submete a consciências retrógradas.
Como aquelas que obrigam a presença física do servidor, em lugar de se satisfazer com o que ele produz.
É óbvio que a desnecessidade de deslocamento do funcionário de sua casa para o Fórum atende a uma série de conveniências.
Economiza-se o tempo de se vestir com roupas de trabalho, quando em casa se pode ficar mais à vontade.
Economiza-se o tempo de deslocamento.
O que a natureza agradece, porque é menos poluição na atmosfera.
Economiza-se a paciência do servidor, trancado num ambiente para completar suas horas, como se a permanência fosse mais importante do que o trabalho prestado.
Já passou da hora de se substituir o controle de frequência por monitoramento de resultados.
Por que fiscalizar quantas horas o funcionário fica sentado em sua cadeira, às vezes perdendo tempo com conversas inúteis, levantando-se de quando em vez para ir à toalete, saindo para as refeições, verificando as mensagens na internet, quando é mais fácil avaliar se ele está cumprindo as funções para as quais preordenado.
O mesmo se aplica aos magistrados.
Por que fazê-los diariamente comparecer ao local de trabalho, se não atenderia mais e melhor ao interesse público acompanhar a confecção de decisões?
A obsolescência, de que tanto se fala na área tecnológica, está mais na cabeça dos que possuem autoridade para imprimir novo ritmo e nova filosofia ao serviço público, do que nas máquinas.
Estas se atualizam. Aquela, nem sempre.
José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras.
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