Não acredito na expressão Terceira Idade. Não utilizo,
por desconfiar da ilusão da má fé, os termos Melhor Idade. Idosos, para mim, é
somente mais uma arma politicamente correta, capaz de esconder os problemas
reais e maquiar a velhice.
A vida nos envelhece. Ficamos velhos. Mas envelhecer está
além dos muros da redundância biológica. Conheço pessoas com mais de 70 anos
que tem uma vida mais agitada do que a minha. E conheço gente que se julga
adulta por conta da carteira de identidade, mas que pensa e se comporta como se
a Idade Média tivesse acabado ontem.
Tornar-se velho é mais do que tempo maior para
recuperação de atividade física. É mais do que falta de fôlego para fazer o que
fazíamos na semana passada. A velhice irreversível ataca mentalidade, valores, perspectivas
de mundo. A velhice se prolifera pelas palavras e atitudes que indicam o quanto
podemos nos agarrar em conceitos antigos e obsoletos.
Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e Caetano Veloso
envelheceram. Ficaram rígidos. Rasgaram parte do passado de lutas, residente em
suas criações artísticas. Passaram a brigar pelas migalhas do artigo 20 do
Código Civil, rascunho de censura dentro de uma legislação tão frankstein
quanto seus argumentos publicados em jornais ou ditos na TV pela porta-voz
Paula Lavigne.
Talvez influenciados pelo rei da música e do atraso, e
autor desta letra mal escrita, o grupo de artistas provocou a distorção de um
problema que inviabiliza a construção da História deste país. Mais do que
discutir a privacidade de gente famosa, o artigo 20 pode assassinar o trabalho
de historiadores, intelectuais e jornalistas. Pode enterrar qualquer caminho
que nos permita se aproximar da veracidade dos fatos, ainda que sempre tenhamos
versões e relatos.
É
impossível não entrar na vida privada de alguém para conhecermos a
personalidade pública. A vida privada é um dos principais indicativos para que
possamos compreender os atos públicos, quando não nasce deles. O personagem dos
holofotes é composto pelo que se foi e é dentro das torres do castelo. E, neste
sentido, vida privada e fofocas são termos incompatíveis.
Dentro
deste caldeirão, a turma do Procure Saber a patota do rei Roberto, acostumado
com os agrados de juízes, canais de TV e jornalistas tenta minimizar as
razões financeiras de seus atos. É parte do pacote de construção da imagem de
vítimas.
A
encenação esconde o que já acontece como rotina no Brasil. Produtores e
diretores de cinema, além de escritores e jornalistas, são obrigados a pedir
autorização para a realização de filmes e livros. Esta autorização é pedida a
herdeiros; em muitos casos, coletores de dinheiro do parente falecido há
décadas, com quem mal se relacionaram em vida e hoje defendem com unhas e
dentes, como corretores na Bolsa de Valores.
É
claro que o jornalismo e sua prima biografia abrigam preguiçosos e maledicentes.
Para isso, existe legislação que prevê punições para calúnia, injúria e
difamação. Há no Brasil, inclusive, uma indústria de indenizações,
especializadas em casos de danos morais e materiais.
A
cantora Angela Ro Ro, exemplo de quem foi massacrada pela mídia diversas vezes
por conta dos escorregões privados, discordou de seus amiguinhos da MPB.
Coerente, não se escondeu e foi direta: É para isso que existem os escritórios
de advocacia.
Parafraseando Cazuza, que por sinal ganhou biografia
e filme bajulatórios, alguns dos meus heróis morreram de overdose. Overdose de
ganância e intolerância. Ironicamente, esta morte simbólica é pública e,
portanto, estará na biografia deles, com ou sem autorização.
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