Já ouvi que o especialista é o que sabe muito sobre uma área específica, enquanto o generalista é o que sabe pouco sobre muitas coisas.
Ambos são indispensáveis à sociedade, mas o ideal é que o especialista não se atenha apenas à sua área de atuação.
Da mesma forma, a atuação do generalista não pode se ater apenas ao superficial.
Pessoas que se dedicam demais a uma única coisa tendem a ter problemas de relacionamento social.
O que não for de sua área não faz parte de seu mundo, e qualquer analogia feita por terceiros é considerada uma apropriação indevida e reprovável, até de forma agressiva.
Além disso, há uma tendência de colocar opções e crenças pessoais em qualquer assunto.
O ideal seria ter outras coisas para ocupar o tempo e diversificar temas de conversas.
Pode ser arte, esporte, voluntariado, bricolagem, enfim, algo que preferencialmente associe a atividade mental com a física, fora do âmbito profissional.
Porém, essas outras coisas não podem ser uma forma de alienação, uma distração dos problemas que precisam e devem ser enfrentados para serem resolvidos.
O ideal é que sejam um momento de distensão prazeroso, preferencialmente com amigos e familiares, com conversas jogadas fora, esportes ou jogos.
Mas também pode ser de ócio criativo, como escrever, desenhar, pintar, montar um quebra-cabeça ou um modelo reduzido.
Quando adolescente, parte de uma família humilde e numerosa, eu fazia brinquedos com material reciclado, que encontrava nas ruas.
Fiz réplicas de aviões, carros de corrida e navios sem gastar um tostão.
Num momento “cientista maluco”, quase incendiei o “quartinho de ferramentas” de meu pai, tentando fazer um foguete; e, para acelerar a rotação de um motorzinho elétrico feito na escola, queimei fusíveis da casa.
Já adulto, quando o ambiente de trabalho se tornou insuportável, comecei a escrever textos e compor músicas, o que ajudou muito, enquanto eu buscava solução para o problema principal.
Enfim, “jogar todas as fichas” numa única coisa pode ser motivo de frustração e, até, depressão, ainda mais quando envolve obsessão excessivamente cartesiana, se atendo a fragmentos como se fossem a mais importante.
Considerando que nem sempre ocorrem as condições adequadas para o desenvolvimento profissional, esse risco é ainda maior.
O esforço para superar adversidades no ambiente de trabalho nem sempre é efetivo, e tampouco “chutar tudo para o alto”, sem ter alternativas disponíveis, é a melhor solução.
Em tempos de “burnout” e assédios de todos os tipos, esse tipo de solução extrema tem sido comum, com resultados raramente bons.
Enfrentar problemas é uma necessidade, sem dúvida!
Mas ter um ou mais “bálsamos” para amenizar esse processo também é!
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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