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Opiniões

04 DE ABRIL DE 2023

Páscoa e caminho sinodal

Por: Da Redação

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O caminho sinodal diz respeito ao jeito ser da Igreja, não apenas a um projeto relativo aos eventos dos Sínodos previstos.

Por isso, é preciso continuar o empenho de conversão, para que a Igreja seja sempre mais expressão autêntica do mistério do corpo de Cristo encarnado nos dias atuais.

A celebração da Páscoa é sempre o reavivamento da nova criatura que renasceu em Cristo no Batismo.

O Concílio Vaticano II destaca esta realidade como fundamental no mistério da Igreja: “O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo… Com efeito, pelo Batismo somos assimilados a Cristo; ‘todos nós fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo’ (1 Cor. 12,13)”.

Dentro desta realidade, o Concílio ressalta como o Espírito une todo o corpo na caridade: “O mesmo Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis. Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe honras, todos se, alegram (cfr. 1 Cor. 12,26)”.

Cristo é a cabeça deste corpo, “de modo que em todas as coisas tenha o primado (cfr. Col. 1, 15-18)”.

Em consequência, “todos os membros se devem conformar com Ele, até que Cristo se forme neles (cfr. Gál. 4,19). E para que sem cessar nos renovemos n’Ele (cfr. Ef. 4,23), deu-nos do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os Santos Padres compararem a Sua ação à que o princípio vital, ou alma, desempenha no corpo humano” (As citações são de LG, n. 7).

Nem todos os batizados permanecem na comunhão desse corpo.

É grande o número dos afastados que sequer frequentam celebrações junto com a comunidade de fé.

Mergulhados no individualismo da cultura atual, cresce o número dos chamados “desigrejados”, que afirmam querer o Cristo, mas não a Igreja.

Outra expressão dessa visão é percebida em grupos de fiéis leigos e também sacerdotes que tem uma identificação parcial com a Igreja, com adesão seletiva ao que lhe agrada, ou então não se envolvendo com uma participação efetiva em sua missão, ou ainda em conflito constante e militante com o que não corresponde à sua visão ou ideologia particular, flertando com novos cismas.

O ensinamento do Concílio a respeito da Igreja como corpo de Cristo não é uma inovação moderna, mas está em coerência fiel com a autêntica Tradição da Igreja, como vemos nas Cartas Apostólicas, na Patrística, nos Concílios, no Magistério constante.

Santo Inácio de Antioquia (sec. I), bispo e mártir, exorta à unidade em Cristo como forma sinodal de viver na Igreja, formando um coro uníssono para glorificar com Ele ao Pai: “A caridade não me permite calar a vosso respeito; resolvi por isto adiantar-me e exortar-vos a serdes bem unidos ao pensamento de Deus.

Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai, da mesma forma como os bispos, em toda a extensão da terra, são o pensamento de Jesus Cristo.

Convém, pois, que vos encontreis com o pensamento do bispo, como aliás já o fazeis.

Na verdade, vosso inesquecível presbitério, digno de Deus, está unido ao bispo como as cordas à cítara.

Deste modo, em vosso consenso e caridade, ressoa Jesus Cristo.

Cada um de vós, igualmente, forme um coro, uníssono na concórdia, recebendo a melodia de Deus na unidade, para cantardes a uma só voz por Jesus Cristo ao Pai.

Este vos ouvirá e reconhecer-vos-á por vossa atitude como membros de seu Filho.

É, na verdade, útil para vós estar na imaculada unidade, a fim de que participeis sempre de Deus” (Cf. Carta aos Efésios, de Santo Inácio de Antioquia).

A força sinodal do mistério pascal é ressaltado por Santo Atanásio (sec. IV): “Aproxima-se agora o tempo que nos traz e dá a conhecer um novo início, o dia da santa Páscoa, em que o Senhor foi imolado… Esta festa nos sustenta no meio das aflições do mundo; por ela nos concede Deus a alegria da salvação e da fraternidade, reunindo-nos a todos espiritualmente na mesma assembleia festiva e na mesma comunidade de oração e ação de graças. Pela admirável bondade de Deus, reúnem-se para celebrar esta solenidade os que estão longe, e sentem-se unidos na mesma fé os que estão corporalmente distantes” (Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo).

A força do Senhor Ressuscitado se manifeste no caminho sinodal de todos os batizados na Igreja, por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade da Trindade. Feliz Páscoa!

Dom Tarcísio Scaramussa é bispo Diocesano de Santos

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