Pastel de feira | Boqnews

Opiniões

29 DE AGOSTO DE 2024

Pastel de feira

Adilson Luiz Gonçalves

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Sobre uma crônica anterior, questionaram minha lembrança sobre a localização de uma antiga pastelaria no Centro de Santos.
Posso ter errado o nome, mas que havia uma no local, disso eu tenho certeza.
Esse questionamento prova o quanto o pastel faz parte do gosto popular, não importa a classe social.
Numa recente e tradicional feijoada beneficente, a quantidade de pasteizinhos consumidos como “aperitivo” comprova essa tese.
Consta que, assim como o macarrão, o pastel teria surgido na China, sob forma do “rolinho primavera”.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a fama de alemães e japoneses ficou prejudicada no Brasil, nem tanto no caso de italianos.
Houve “quintas-colunas”, membros do braço internacional do nazismo, e a perseguição impetrada por uma seita nacionalista japonesa, contra membros da colônia que aceitaram a rendição do Japão.
Numa tentativa de superar o preconceito contra nipônicos e seus descendentes, várias pastelarias de japoneses surgiram como sendo chinesas, o que auxiliou muito nessa transição.
A vantagem do pastel em relação a outras iguarias populares é sua simplicidade e onipresença, dos shopping centers às feiras-livres, incluindo carrinhos nas proximidades de locais estratégicos, ou ficando tão famosos, que a propaganda “boca a boca” tornaram sua localização uma referência urbana, como alguns casos no Centro e na Ponta da Praia.
No Brasil, virou parte do marketing eleitoral, degustado por onze entre dez políticos, em tempos de campanha!
Não faltam carrinhos de pastel na praia, que também oferecem outras iguarias, como coxinha de galinha e esfirra, para tormento de quem tem problemas com colesterol e glicemia. Oh, tristeza!
Meu pastel de feira preferido é o de queijo, mas não qualquer um.
Eu tinha 6 para 7 anos, quando mudamos do Bairro Marapé para o Encruzilhada.
A feira-livre mais próxima era a da R. Prudente de Moraes, que também ocupava algumas de suas travessas.
Numa delas, conhecemos uma barraca de pastéis, comandada por pais e filhos de origem nipônica.
Seu pastel de queijo era a oitava maravilha do meu mundo! Pelos quatro anos em que moramos ali, era parada obrigatória!
Quando mudamos para a R. Rio Grande do Norte, no Bairro Pompeia (na época, José Menino), pensei que nunca mais comeria aqueles pastéis.
Agora, a feira era aos sábados, na Av. Francisco Glicério. Eu continuava o acompanhante oficial de minha mãe, e assim foi na primeira exploração desse novo território.
Para nossa agradabilíssima surpresa, aquela banca de pastéis estava bem em frente à nossa rua!
Saudamo-nos como velhos amigos e os pastéis passaram a integrar o menu dos sábados, acompanhados de arroz, feijão e salada.
O cardápio pode incomodar os que se dizem “gourmets”, mas era muito bom!
Depois das compras de frutas, verduras e legumes, eu ia buscar dez pastéis – os de palmito para minha mãe eram sagrados -, mas sempre vinham mais dois, parte do programa de “fidelização” dos pasteleiros.
O tempo passou, casei, mudei de bairro, experimentei outros pastéis considerados “tradicionais”, mas nunca mais encontrei aqueles de queijo, saborosos e bem recheados, que ainda me fazem salivar.
Poderia sair à procura daquela banca de pastéis de minha infância e adolescência, mas talvez os filhos e netos daquela geração hoje sejam engenheiros, médicos ou profissionais de outras áreas, considerando a tradição de disciplina e inteligência dos orientais.
Mas o pastel sempre será um prazer que lembra um tempo sem preocupações, ou ameniza boa parte delas.
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras

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