A entrega da etapa das obras físicas que viabilizaram a passagem da água no plano de transposição do Rio São Francisco, de Pernambuco até o território cearense, representa um passo importante para reverter as muitas dificuldades enfrentadas pelo Nordeste brasileiro, um drama por demais conhecido. O projeto, que se arrasta por quase duas décadas, quando concluído em todas as suas etapas, deverá consumir mais de R$ 10 bilhões dos cofres públicos federais, um investimento que, apesar dos desvios e atos de corrupção, contribuirá de forma decisiva para o progresso daquela região.
Havemos de reconhecer que, ao longo da história, as populações nordestinas ficaram à margem das políticas de desenvolvimento e sempre foram tratadas como esteriótipos da miséria nacional, permeando retóricas políticas populistas e camuflando práticas corruptas a partir do desvio de recursos dos muitos projetos inacabados criados para tentar atender as demandas sociais motivadas pela seca. Subjugadas pela cultura do coronelismo, essas comunidades foram condenadas ao atraso e, por consequência, forçadas ao êxodo para assegurar as condições mínimas de sobrevivência, motivando o crescimento urbano desordenado nas grandes cidades brasileiras, notadamente no Sul e Sudeste.
Mesmo que reconhecida a necessidade de manutenção dos programas assistencialistas e de transferência de renda, como o Bolsa Família, para o combate à miséria no Nordeste, muito mais se espera do Governo no sentido de implementar projetos consistentes e duradouros para o desenvolvimento sustentável daquela região. Além da urgência na instituição de programas ou políticas de atendimento às populações mais vulneráveis, dirigidas a minimizar os impactos das mudanças do clima, espera-se também maiores investimentos em tecnologia para adaptação dos cultivos agrícolas à nova realidade proporcionada pela chegada da água.
Nesse sentido, a criação de mecanismos e alternativas de cunho econômico local, além de garantir a subsistência das famílias, oferecerá condições para sua manutenção nas próprias localidades, evitando, ou pelo menos minimizando, a migração para outras cidades do País. Mais do que atos de benevolência, a região nordestina deve ser entendida como grande potencial de oportunidades para abrigar importantes segmentos empresariais brasileiros, sobretudo os voltados à produção de alimentos, por isso deve, obrigatoriamente, estar incluída entre as principais prioridades nacionais relacionadas para as próximas décadas.
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