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Opiniões

27 DE JULHO DE 2014

Proporção míope

Por: Fernando De Maria

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Apesar das campanhas eleitorais já estarem permitidas, ainda vivemos um clima eleitoral bem ameno, pós-ressaca do vexame futebolístico e da falta de recursos. Neste ritmo, os números previstos de gastos pelos candidatos ficarão aquém do planejado. Apenas entre os nove postulantes ao Governo do Estado são estimadas despesas na ordem de R$ 324 milhões. No Senado, os dez candidatos estimam gastar, juntos, R$ 113,5 milhões.

A situação não é diferente à Câmara Federal e Assembleia Legislativa. No primeiro caso, os gastos variam, em média, entre R$ 6 a R$ 10 milhões. Para a Assembleia Legislativa, até R$ 5 milhões. É uma estimativa, é claro, mas mostra uma tendência. E o pior: o montante gasto supera – de longe – o valor que o eleito receberá durante o seu mandato.

Portanto, se não for por vaidade ou por interesses escusos, um postulante a um mandato público tem que gostar muito do que faz para trabalhar em prol da população que o elegeu. Se for atuar com seriedade, na prática, ser político não é rentável. Por exemplo, a maior parte dos parlamentares da região com mandatos perderam patrimônio conforme declaração entregue à Justiça.

A desproporcionalidade para elegermos nossos representantes contribui para encarecer as campanhas – e a busca por recursos, muitas vezes de origem duvidosa, certamente será cobrada pelos doadores.

O estado de São Paulo terá nestas eleições 32 milhões de eleitores de um total de 142,8 milhões de brasileiros aptos a votar. Assim, em termos proporcionais, a representividade paulista equivale a 22,5% do total nacional. Na prática, porém, nosso peso é de apenas 13,6%.

Com este cenário, São Paulo elegerá 70 deputados federais, ao contrário dos 115 a qual os paulistas teriam direito se houvesse a proporcionalidade. O Acre, por exemplo, tem apenas 0,35% do eleitorado brasileiro, mas elege oito parlamentares, quantidade mínima garantida para cada unidade da federação.

Portanto, sem uma reforma política séria, os votos dos paulistas sempre terão um peso menor em relação aos demais brasileiros. A implantação do voto distrital diminuiria custos, facilitaria o contato do eleitor com o candidato e a cobrança pelos seus atos seria mais próxima, além de corrigir esta nefasta distorção numérica.

Não bastasse, ainda corremos o risco de diminuirmos nossa representividade nesta eleição, já em queda desde 2010. A Baixada tem 4% do eleitorado paulista. Preocupa uma nova abstenção em massa (em 2010, a média regional foi de 22,67%, percentual maior que a nacional, de 18,12%).

Não é à toa que candidatos sem compromisso com a Baixada estão ávidos em busca de votos por aqui. Em 2010, o deputado Francisco Everardo, o Tiririca, obteve 70.062 sufrágios na região. Até o seu mentor, o deputado Valdemar da Costa Netto, hoje preso em razão do Mensalão, abocanhou 11.322 votos. Mas o que eles – e tantos outros sem raízes na Baixada, mas que pediram e ganharam seu voto – fizeram em benefício da região? Reflita antes de escolher.

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