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08 DE FEVEREIRO DE 2022

Qual é o critério?

Por: Da Redação

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Quem sou eu para perguntar? Mas qual tem sido o critério para levar embora os amigos da natureza e deixar aqui os que teimam em destruí-la? Depois de Lovejoy e E.O.Wilson, vai embora Thiago de Mello (1926-2022), o amazonense tão íntimo com a natureza, que defendeu durante toda a sua longa e produtiva existência.

Ele se tornou mundialmente conhecido por escrever “Os Estatutos do Homem”, no ano emblemático de 1964. Sua vida foi conscientizar as pessoas quanto à super valia da natureza. Ele dizia: “Para fazer algo em defesa da humanidade, é preciso, em primeiro lugar, que cada um de nós tente persuadir pelo menos um companheiro, que cada um de nós faça qualquer coisa por este planeta Terra tão degradado”. Ele sabia que caminhávamos rumo à catástrofe: “A Terra flutua hoje no espaço como um pássaro em extinção”.

Foi exilado em vários países, a partir de 1964. Mas sua pregação espalhou-se por todo o mundo. Ficou célebre o seu verso: “Faz escuro, mas eu canto”, que deu nome a um livro escrito durante seu banimento.

A mocidade se encantou com os “Estatutos do Homem”, que começava: “Fica decretado que agora vale a verdade/que agora vale a vida/ e que de mãos dadas/trabalharemos todo pela vida verdadeira”.

O “Mormaço da Floresta”, de 1981, já lastimava a destruição da Amazônia: “Enfim te descobrimos/Foi preciso que as águas mais azuis apodrecessem/ que os pássaros parassem de cantar/que peixes fabulários se extinguissem/tua pele verde fosse aberta/pelas garras de todas as ganâncias”.

Esse verdadeiro hino à democracia, consta do livro “Faz escuro mas eu canto”, de 1965: “Fica permitido a qualquer pessoa/a qualquer hora da vida/o uso do traje branco”. Optou por residir permanentemente na Amazônia, para lutar pela ecologia. Além do “Mormaço da Floresta”, escreveu “Amazonas, Pátria da Água”, em 1991.

Para ecologistas como Thiago de Mello, Lovejoy, Wilson, Chico Mendes, Aziz Ab’Saber, Paulo Nogueira Neto, além de tantos outros mártires que a poderosa criminalidade organizada ceifa e faz deserto espiritual, para combinar com a desertificação da floresta, não há refil. Daí a heresia da pergunta: – Qual o critério para levar os artífices de jardins e deixar à toda os exterminadores do futuro?

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.

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