Em 17 de maio, se comemora o Dia Mundial da Reciclagem, cujo símbolo universal, é formado por três setas curvadas em sentido horário, em formato triangular (fechando o ciclo da economia circular), onde os resíduos produzidos são reciclados e retornam as cadeias de produção, sem que haja necessidade de se extrair mais matéria-prima virgem da natureza. Fora criado em 1970, nos EUA, por Gary Anderson, um estudante de arquitetura de 23 anos, num concurso promovido para comemorar o Dia da Terra.
A reciclagem é condição “sine qua non” para mitigar as mudanças climáticas em curso no planeta, estimulando práticas de consumo sustentáveis, combatendo toda sorte de desperdício, a obsolescência programada, e o consumismo voraz (nada a ver com socialismo) que causam enormes impactos ambientais, além de contribuir diretamente com a emissão de gigatoneladas/ano de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera terrestre, que resultam no fenômeno do aquecimento global. Tudo que não é reciclado, se transforma em rejeito, e termina em aterros sanitários, incineradores, ou lixões, com prejuízos de grande monta. Ademais, reciclar é vital para que se economize gigantescos volumes de água, energia e recursos naturais, motivos de guerras por todo o mundo, desde sempre.
Reciclamos só 8,3% dos 80 milhões de toneladas anuais de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) gerados nacionalmente. Em São Paulo – SP, a porcentagem é de 2,5% a 3%, e em Belém – PA, sede da COP 30, de parcos 0,45%. A média mundial é de 19%, na OCDE de 34%, e nas nações mais desenvolvidas de 50%, com Alemanha alcançando os 60%. Apenas 27,5% dos brasileiros possuem coleta seletiva porta a porta e 70% da população não separa a fração seca, da fração orgânica dos resíduos. Perdemos R$ 14 bilhões/ano por não reciclarmos tudo que é possível. Mais de 800 mil catadores de recicláveis são os protagonistas da coleta de 90% de todo montante que é reciclado em território brasileiro.
Já um estudo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) concluiu que a economia circular tem o potencial de gerar até 7 milhões de empregos no Brasil até 2030. E, ao reciclarmos os resíduos orgânicos (50% do total dos RSU) obtemos biogás, que purificado, conseguimos o cobiçado biometano (gás natural biológico renovável), com potencial estimado em 14 bilhões de m3/ano, além de biofertilizante (através da biodigestão anaeróbica), se constituindo numa poderosa ferramenta na descarbonização da economia brasileira, em especial, no transporte urbano e interurbano (cargas e passageiros), em substituição ao diesel, com redução de até 95% das emissões de CO2.
Os desafios da reciclagem no Brasil são muitos: faltam políticas públicas robustas de incentivos fiscais, financiamento, e fim da bitributação; engajamento vigoroso do conjunto da sociedade; padronização das cadeias produtivas; greenwashing empresarial; falta de ganhos de escala, investimentos vultosos nos sistemas de triagem dos RSU e em capital humano, e coleta seletiva universalizada. Portanto, uma mudança de 180º é compulsória.
Finalmente, é primordial que a população brasileira entenda, de forma inequívoca, que precisamos pensar nas próximas gerações, e nunca esquecer de que o planeta não dilata de tamanho, e de que não existe planeta B.
Lufe Bittencourt é geógrafo
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