Retórica camuflada | Boqnews
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Opiniões

26 DE FEVEREIRO DE 2020

Retórica camuflada

Por: Humberto Challoub

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As críticas e ataques sistemáticos lançados pelo presidente Bolsonaro – e por representantes de seu governo – contra meios de comunicação e à cobertura realizada pela imprensa, por meio da desqualificação de jornalistas feita de forma preconceituosa, pejorativa e jocosa, demonstram nas entrelinhas muito mais do que simples manifestações de contrariedade e insatisfação com a mídia brasileira. É perceptível que os questionamentos sobre abordagens e métodos utilizados pela imprensa têm servido para camuflar a real intenção desse comportamento estapafúrdio, que é o de desviar a atenção da opinião pública para temas nebulosos que ainda carecem de explicação, especialmente os que envolvem suspeitas e denúncias de corrupção e crimes cometidos por membros do seu clã nas esferas públicas.

Apesar de toda a celeuma suscitada pela cotidiana verborreia presidencial, especialmente por despertar o temor de representar um risco de cerceamento à liberdade de expressão, é preciso também reconhecer a necessidade de se reavaliar o atual papel exercido pelos meios de comunicação, especialmente os que detêm concessões públicas. Não há dúvida que o presidente Bolsonaro presta um desserviço ao bradar palavras de ordem contra jornalistas e veículos, exagerando no tom autoritário e diminuindo a importância de uma atividade essencial para a manutenção do estado democrático. Agindo assim, gera a desconfiança sobre os seus reais propósitos à frente do Governo.

É preciso admitir, no entanto, que a expansão dos veículos de comunicação no País, a partir do surgimento de inúmeras emissoras com abrangências nacional e regionais, se deu principalmente por meio de favorecimentos políticos, para o atendimento de interesses de grupos detentores de empresas jornalísticas e formados por entidades religiosas.

Com raras exceções, o princípio norteador para o uso dos canais disponibilizados – de fomento à cultura, valorização da cidadania, educação e de prestação de serviços -, não tem sido adotado nas programações disponibilizadas aos públicos ouvinte e telespectador. Ao contrário, invariavelmente grades de programação são permeadas por produtos de baixa qualidade ou com conteúdos dirigidos à indução de crenças duvidosas, à exploração da boa fé da população ou então à superexposição da imagem de políticos interessados na conquista ou manutenção de seus cargos. Mudanças no setor se fazem necessárias para torná-lo mais transparente e útil à sociedade, porém elas devem ser conduzidas de forma consensual, equilibrada e desprovidas de sentimento revanchista.

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