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Opiniões

19 DE MAIO DE 2021

Rever métodos de atuação

Por: Humberto Challoub

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A operação policial realizada na favela de Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que resultou na morte de 28 pessoas, colocou mais uma vez no centro das discussões a preocupante realidade da violência vivida nas comunidades mais pobres existentes no País, dominadas por quadrilhas de traficantes de drogas e, mais recentemente, também por grupos de milicianos. As mortes provocadas pelas guerras do tráfico e por ações da polícia brasileira têm poucos precedentes no mundo, como há muito mostram os relatórios produzidos por entidades internacionais. Entrincheirados em posições estratégicas e, na maioria das vezes, dispondo de modernos sistemas de informação, os traficantes agora demonstram a firme disposição de resistir à polícia, colocando em dúvida a real capacidade do Estado no combate à criminalidade.

Dispostos ao enfrentamento com os policiais, as quadrilhas revelam-se equipadas com armamentos de última geração – muitos deles somente encontrados em guerras convencionais -, o que demonstra uma pretensão nunca vista para manter e expandir o domínio das áreas utilizadas para comércio de drogas. Transformadas em verdadeiros guetos, as comunidades dominadas pelos comandos criminosos são geridas por leis próprias, o acesso é restringido e controlado, com total desprezo às regras que normatizam a vida em sociedade.

Diante desse quadro caótico, a matança tem sido justificada como sendo “autos de resistência”, mas é notório que nesse ambiente de guerra também execuções sumárias sejam cometidas pelo uso de força policial excessiva, que tem condenado à morte suspeitos de crimes que deveriam ser apenas presos, e inocentes, muitos deles crianças, atingidos por balas perdidas nos locais de operação.

A quantificação da violência deixa mais do que clara a urgente necessidade de priorizar profundas mudanças no combate à criminalidade instalada em regiões de favelas, com o aperfeiçoamento dos métodos utilizados até aqui e, sobretudo, com a valorização e qualificação dos policiais que atuam nessas operações. Sem contar com infraestrutura adequada, com sistemas de formação deficientes e oferecendo salários incompatíveis com a realidade que a atividade requer, a polícia brasileira assemelha-se a uma facção em meio aos conflitos urbanos estabelecidos, onde mata-se para não morrer.

Da mesma forma, sem incluir uma maior atenção ao desenvolvimento de ações preventivas permamentes de segurança e de atendimento social, que permitam salvaguardar as populações residentes nas periferias dos traficantes e milicianos, dificilmente será possível evitar que a guerra hoje estabelecida continue produzindo mortes que poderiam ser evitadas.

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