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Opiniões

19 DE DEZEMBRO DE 2012

Roberto, Álvaro e talvez Francisco

Por: Da Redação

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Roberto
e Álvaro não se conhecem. Não viveram na mesma cidade. Roberto – na verdade,
Robert – era inglês. Migrou para o Brasil com a esposa, descendente de alemães.
Ao chegar no Porto de Santos, resolveu ficar na cidade. Morou durante anos em
uma chácara na Ponta da Praia, onde hoje seria o Aquário Municipal.

Álvaro
era médico e um peregrino por natureza. Nasceu em Vassouras, no Rio de Janeiro.
Estudou medicina na Bahia. Em 1896, atravessou o Oceano Atlântico e desembarcou
na França, onde estudou técnicas de raio-X com Madame Curie.

De volta ao Brasil, Álvaro fixou-se
no Rio de Janeiro e se tornou pioneiro na radiologia e na radioterapia no país.
Chegou a ser condecorado pelo então presidente da República Artur Bernardes. Mesmo
um viajante de carteirinha, é bem provável que Álvaro jamais tenha visitado
Santos.

Roberto,
por sua vez, não tinha jeito nem vontade de viajar pelo mundo. Preferia a vida
de uma cidade ainda impregnada pela atmosfera rural. Não fez grandes
descobertas científicas ou recebeu medalhas de políticos de alto calibre. Mas
isso não o torna menos importante que o colega carioca.

Roberto
e Álvaro acabaram unidos por dois laços. O primeiro deles foi a política. São
os políticos que decidem, por inúmeros motivos, quem merece a imortalidade
geográfica. Quem merece viver a posteridade numa placa pendurada no poste da
esquina.

Roberto
Sandall e Álvaro Alvim viraram nomes de rua. O primeiro fica na Ponta da Praia.
Neste caso, homenagem dupla, pois a rua ao lado se chama Inglaterra, seu país
de origem. Álvaro Alvim fica no Embaré e serve de ligação entre as avenidas
Epitácio Pessoa e Pedro Lessa.

Outro
laço é o Natal, que os tira do anonimato viário do resto do ano. Em dezembro,
as duas ruas ganham status de vias congestionadas e de ponto de atração para
turistas e nativos. A metamorfose acontece ao anoitecer, quando filas de carros
e flashes de câmeras alteram a rotina pacata dos moradores.

A
rua Roberto Sandall é composta por 14 prédios. Todos iluminam as entradas e as
árvores. Alguns estendem a decoração para fachadas e apartamentos. A rua já
ganhou prêmios pela identidade visual e é alvo de crônicas como esta há quase
20 anos.

A
rua Álvaro Alvim se destaca pelas casas. São decorações independentes que, em
conjunto, transformam a via numa alameda de luzes, personagens natalinos e
cores além das tradicionais do período.

Na
última semana, quando cruzei a rua, vi vários carros parados e pessoas reunidas
na calçada. O primeiro pensamento foi: “houve um acidente.” Na iminência de ser
absorvido pela curiosidade mórbida e pelo “antes ele do que eu”, me perguntei:
“mas cadê as viaturas?”. O trânsito estava travado por conta das luzes
natalinas em várias casas.

Santos
poderia retomar os concursos de Natal, que premiavam as melhores decorações até
alguns anos atrás. Mas as duas ruas deveriam ser proibidas de concorrer pela
tradição e pelo notório saber. Caso contrário, os videntes do fim do mundo
seriam capazes de acertar os vencedores.

Roberto
e Álvaro costumam provocar inveja e admiração. “Por que minha rua não é
assim?”. Talvez consumido pela dúvida, um religioso começou a se mexer. Frei
Francisco Sampaio já mobilizou alguns vizinhos, donos de casas sobrepostas recém
construídas. Eles investiram pesado nas mudanças de suas residências,
principalmente perto do Canal 5. Ali, motoristas e pedestres começam a sair do
transe e a olhar para os lados e para cima.
 

De
fato, quem poderia resistir à pressão da fé, principalmente em tempos
natalinos? Até os freis carregam uma pontinha de inveja.

 

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