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Opiniões

18 DE NOVEMBRO DE 2025

Sobre vícios

Adilson Luiz Gonçalves

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Existem vários tipos de vícios, sendo os associados ao consumo de drogas lícitas e ilícitas os mais dramáticos, em tese.

No entanto, os vícios também podem ocorrer independentemente do uso de drogas, em função da própria química do corpo, via hormônios e/ou neurotransmissores.

Alguns são despertados, outros são induzidos de múltiplas formas, inclusive maliciosas, oportunistas, terapêuticas, culturais, por curiosidade, relações sociais e, até, por imposições violentas.

Um exemplo emblemático foi a Hollywood da “era de ouro”, com filmes em que bebedeiras eram atos de camaradagem e fumar era sinônimo de glamour e elegância, financiado pela indústria do tabaco, até descobrirem que causava câncer, entre outros males.

Quanto aos alucinógenos e entorpecentes, seu uso ocorre em certos rituais religiosos há séculos.

Em alguns casos, precedia sacrifícios humanos.

No século XIX, dois conflitos entre a Inglaterra e a China ficaram conhecidos como “Guerras do Ópio”, substância altamente viciante, introduzida por comerciantes britânicos e dos EUA, que induziram seu consumo para gerar dependência e, assim, ampliar seu comércio.

A “vingança” dos chineses foi espalhar “casas de ópio” pelo Ocidente, junto com suas imigrações, no mesmo século.

Químicos alemães produziram o Perventin, largamente utilizado por soldados durante a Segunda Guerra Mundial, tornando-os verdadeiras máquinas de lutar.

Nesse mesmo conflito, ampolas de morfina eram distribuídas a soldados e médicos militares, servindo para aliviar dores de ferimentos e, no limite, a própria morte sem agonia.

Na Guerra do Vietnã, o uso de maconha e heroína era comum entre militares.

Vários deles se tornaram dependentes químicos, comprometendo suas vidas, de seus familiares e da sociedade de múltiplas e dramáticas maneiras.

Drogas também eram e ainda são frequentes no âmbito da prostituição forçada, desde o aliciamento.

Pessoas da elite empresarial, política e intelectual passaram a consumi-las para criar coragem, “ampliar horizontes de pensamento”, estimular “criatividade” ou turbinar festas de esbórnia.

“Viagens lisérgicas”, comuns no movimento hippie e psicodelismo, motivaram até música dos Beatles, além de mortes prematuras de artistas. Criminosos as consomem para potencializar suas ações, inclusive matando sem remorso.

A dependência química tornou o vício um grande e inescrupuloso negócio, que alguns querem temerária ou intencionalmente tornar legal.

Quem e por que as pessoas se viciam?

O descrito anteriormente já responde essa pergunta.

Porém, é senso comum que os vícios são mais difíceis de serem combatidos quando adquiridos na infância e adolescência.

Cigarro e bebidas alcoólicas são um primeiro passo, normalmente associado à ideia errônea de que representam maturidade ou liberdade, um “rito de passagem”, quando, pelo contrário, escravizam de forma trágica, às vezes sem volta!

O exemplo vem de casa, mas também de grupos de convívio.

Alguns “amigos”, “tribos” e seitas religiosas dizem para experimentar, que não faz mal, ou que faz parte de um processo de “elevação espiritual”.

Além disso, é cada vez mais comum filmes com cenas em que artistas famosos fumam maconha, como se fosse algo associado a prazer e liberdade.

Ah, a “Janela de Overton”, que também está sendo aplicada em outras áreas de forma igualmente maliciosa, tão intencional quanto inconsequente.

A indução ao vício está em toda parte, inclusive em escolas, via pseudoalunos e o discurso ideológico permissivo, travestido de libertário, de alguns docentes.

Por tudo isso, o tráfico de drogas não pode ser considerado meio de vida, mas de morte, tão letal quanto a corrupção, pois afeta toda a sociedade por gerações.

Ambos deveriam ser considerados crimes hediondos!

Um traficante e seus cúmplices jamais poderão ser considerados vítimas do mal que fomentam e disseminam, ou da violência física e psicológica que praticam, armados até os dentes, dentro e fora dos territórios que dominam, sob as bênçãos de uma impunidade institucionalizada.

Para mudar esse quadro aterrorizante, que afeta tudo e todos, é preciso que os poderes institucionais, cada um em seu âmbito, propiciem condições adequadas para combater rigorosamente essas práticas nefastas, ao mesmo tempo que criem condições para a geração de empregos, fomento ao estudo e melhoria das condições gerais de vida, com o Estado assumindo as funções que “delegou”, por ações e omissões, ao crime organizado.

 

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras

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