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Opiniões

22 DE ABRIL DE 2019

Tragédias anunciadas

Por: Humberto Challoub

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A repetição das tragédias provocadas pelas chuvas no País, especialmente no Rio de Janeiro, mais uma vez evidencia as consequências desastrosas geradas pelos processos de expansão urbana ocorridos ao longo das últimas décadas. Fruto dos deslocamentos populacionais em direção aos grandes centros, motivados pela ausência de oportunidades no meio rural, o adensamento das grandes cidades resultou na acelerada e incontrolável ocupação de regiões de risco; em invasões de áreas imprescindíveis à preservação ambiental e, sobretudo, no estabelecimento de núcleos de pobreza extrema.

Sem poder contar com ações de governos e políticas para a expansão das atividades agrícolas e industriais, contigentes populacionais de várias partes do Brasil se agruparam no entorno das cidades produtivas ocasionando inúmeras distorções no meio urbano, entre as quais a ocupação desordenada das enconstas de serras e morros. Protagonistas e vítimas desse processo, milhares de famílias vivem sob o temor das tragédias anunciadas, sem perspectiva de solução a curto prazo.

Nesse sentido, mais do que promover intervenções contingenciais no intuito de tentar salvaguardar condições mínimas de habitabilidade, às autoridades públicas cabe o dever de estabelecer novas diretrizes para o crescimento das cidades, que passa, obrigatoriamente, pela revisão do modelo de desenvolvimento econômico e social que se pretende para o Brasil. Descentralizar pólos de produção e criar estímulos para a fixação das populações em suas regiões de origem são fatores que, sem dúvida, devem pautar a introdução de novos conceitos desenvolvimentistas.

Da mesma forma, o País não pode mais prescindir de explorar o enorme potencial agrícola que suas cararterísticas geográficas e climáticas oferecem para estimular o surgimento de fronteiras produtivas, desobrigando as famílias ao êxodo em direção às periferias dos centros urbanos já degradados.

As intervenções que hoje se fazem necessárias para conter e reduzir as dimensões das tragédias servirão, mais uma vez, como meros paliativos diante de um problema insolucionável se tratado com complacência, má fé e omissão. Afinal, quantas mortes ainda haverão de ser registradas para revelar o que há muito está evidente?

O poder de mobilização e o espírito de solidariedade presentes nas tragédias devem servir como exemplo e prova da capacidade transformadora da sociedade brasileira, que assim deve contribuir e exigir dos governantes a adoção de políticas duradoras para a construção de novos paradigmas de desenvolvimento sustentável, que certamente excluem a reprodução dos modelos configurados nas megacidades.

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