Apesar de alguns sintomas de retrocesso civilizatório, muitos são os que se consideram afinados com as exigências éticas do Século 21.
Por isso, confessam-se adeptos ao politicamente correto e não se recusam a cultuar a sigla DE&I.
Ela significa o apreço à equidade, diversidade e inclusão.
Para demonstrar o apreço a tais ideais, adotam discurso pós-moderno, antenados com as mais auspiciosas tendências, rumo à edificação daquela sociedade justa, fraterna e solidária.
Conforme prometeu o constituinte em 1988 e que, até hoje, quase um quarto de século depois, ainda está longe de refletir a realidade brasileira.
Uma coisa é aderir a um lema. Outra, muito diferente, é praticá-lo.
E uma prática que teria de ter início em casa, no âmbito doméstico.
Espraiar-se para a família expandida, para os círculos de amizade e de convívio, vigorar no trabalho e em outros espaços de convivência.
É no recôndito do lar que, por primeiro, se verifica o preconceito, a manifestação de insensibilidade, a pouca importância que, na verdade, se confere a tais temas.
Quando se propagam chistes e piadas de péssimo gosto a respeito de minorias, a pretexto de um instantâneo relaxamento da rigidez, em prestígio ao humor, demonstra-se a raiz cruel de quem se diverte com a desfaçatez.
A escusa – “é brincadeira!” – não disfarça a índole perversa de quem exercita essa modalidade de menosprezar o próximo.
Os americanos dizem que uma ação em favor dessas bandeiras há de ser efetiva e não meramente discursiva.
Eles se utilizam da metáfora: “não basta convidar para a festa! Tem de dançar também!”.
Ou seja: a simpatia há de ser para valer.
Se você levar a equidade, a diversidade e a inclusão a sério, o destinatário de sua ação há de se sentir igual, aceito e incluído.
Há grupos muito impactados pelo descaso ou pelo fosso aparentemente intransponível entre o discurso e a prática.
São a população negra, as pessoas com deficiência, os refugiados, os integrantes de uma sigla que não para de crescer – LGBTQIA+, os ex-detentos e a população considerada idosa.
São eles que formam o principal alvo da discriminação.
A responsabilidade de quem tem cargo de mando, exerce autoridade, possui mais cultura ou se situa na faixa mais beneficiada da cidadania é maior e também serve para estimular atitudes benfazejas no seio da comunidade que habitam.
Pense sobre isso e não fique silente quando ouvir algo que desafine a sua sensibilidade auditiva.
O mundo precisa de bons exemplos.
José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras.
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