A cada ano que passa o tempo fica mais velho e a população também, mas esta conta quase ninguém faz, porque matemática – vamos combinar – é uma ciência não muito popular no Brasil.
2023 não será diferente.
Eu, particularmente, não gosto de usar a palavra velho, porque remete a algo ou alguém descartável, ultrapassado, decrépito, à espera de uma coleta não seletiva ou da morte. Mas decidi abrir uma exceção.
Em outras culturas, como a oriental, velho é sinônimo de respeito, experiência e, em muitos casos, sabedoria.
Confúcio, filósofo daquelas bandas, tem diversos postulados sobre este tema.
A expectativa de vida cresce em todo mundo, a longevidade é um fato e já encontramos mais velhos nas cidades do que recém nascidos nas maternidades.
Este é um fenômeno já constatado no Brasil: temos mais vovôs e vovós do que bebês.
E em breve seremos um país idoso, com mais pessoas 60+ do que jovens até 15 anos.
Nossos velhos ilustres não se dão conta disso.
Temos presidente, ministros, governadores, senadores, deputados, líderes empresariais, artistas, atletas e toda sorte de figuras públicas em idade avançada, mas a nenhum deles chamamos de “velhos” e nem eles gostam de ser tratados como tal, ainda que seja uma constatação óbvia.
Praticamos uma espécie de “auto-preconceito”, onde os “velhos são os outros”.
Ocorre em paralelo uma “sabotagem da realidade”, onde os idosos se tornam invisíveis aos olhos da sociedade e só se tornam visíveis quando a mídia destaca um ato espetacular como escalar o Monte Everest, correr uma Maratona ou surfar uma onda gigante.
A par de análises mais ou menos complexas, o envelhecimento da população mundial impõe uma nova realidade a todos os países.
Os impactos do envelhecimento se somam a outros de caráter socioeconômico, pois envelhecemos em condições distintas, marcadas por desigualdades sociais, de raça, cor, gênero e oportunidades.
Envelhecer bem é privilégio de poucos, visto que a Longevidade é desigual.
Queremos uma sociedade justa para todas as idades, mas para tanto precisamos de políticas públicas centradas na equidade de direitos, na redução das desigualdades e na promoção da justiça social, da cidadania e do envelhecimento ativo e saudável para todos os brasileiros.
Isso significa romper com as práticas perversas do passado e construir o futuro com base num dado real: os novos velhos vão viver mais.
Longevidade exige mais renda, mais saúde, mais educação, mais trabalho, mais tudo.
O Brasil tem 55 milhões de pessoas 50+ e 35 milhões deles têm 60 anos ou mais.
O crescimento deste contingente é exponencial: a cada minuto o país ganha três 50+ e dois 60+.
Estudo recente realizado pela London School of Economics em 140 países aponta que nos países em desenvolvimento, cerca de 84% da população idosa não poupou o suficiente para enfrentar a velhice estendida, portanto necessitam condições dignas para sobreviver os 20 ou 30 anos que têm pela frente.
Somado a outros fatos e números, estamos diante de indicadores incontestáveis que confirmam a urgência de ações e políticas capazes de dar uma resposta digna a tais demandas.
Temos um novo governo com a responsabilidade de cuidar bem de um problema recorrente e conhecido.
Que o Ano Novo seja realmente Novo para os Velhos também. #Tamojunto!
Feliz 2023!
Ricardo Mucci é jornalista e palestrante. Arquiteto de inovações de impacto socioeconômico. Ricardomucci.com
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