Volta da retórica maniqueísta | Boqnews
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Opiniões

04 DE NOVEMBRO DE 2019

Volta da retórica maniqueísta

Por: Humberto Challoub

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A relação conflituosa do presidente Bolsonaro com jornalistas e veículos de imprensa, que agora incluem ameaças de não renovação de concessões a emissoras de rádio e televisão, ressuscita um velho jargão maniqueísta de governos passados, que sempre se colocaram como vítimas de um processo sistemático desencadeado pelos meios de comunicação para depreciação de seus governos.

Não há como negar que jornalistas cometam erros e que donos de veículos de comunicação atuem com propósitos outros ou se coloquem a serviço de interesses particulares. Porém, à sociedade cabe a fiscalização e o julgamento desses atos, especialmente em um estado plural e democrático como o brasileiro. Era de se esperar que alguém com o lastro e a experiência política de Bolsonaro, com mais de três décadas na vida pública, estivesse acostumado às críticas habituais realizadas pela imprensa, pois esse é um dos papéis que cabe aos jornalistas cumprir.

Tantos outros governantes tiveram o mesmo dissabor e souberam entender que o cargo exercido delega direitos incontestáveis, mas impõe deveres institucionais que incluem a obrigação de dar total transparência e a devida publicidade aos atos praticados na função. A liberdade de imprensa é uma conquista e um fator preponderante para a manutenção das liberdades individuais, por isso deve ser aceita com suas contrariedades e imperfeições.

Ao invés de sistematizar as tentativas de desqualificar as críticas da imprensa, seria de maior valia que o presidente dedicasse maior atenção à formulação de normas claras para instituir políticas governamentais de comunicação, a partir de conceitos objetivos de informação de interesse público, subtraindo assim as possibilidades de veiculação de mensagens apológicas e publicitárias voltadas exclusivamente a atender aos interesses dos que pretendem a perpetuação do poder.

Há muito se sabe que apesar de constar como preceito constitucional e representar um direito irrefutável do cidadão, a prestação dos serviços públicos de comunicação, na maioria das vezes, é utilizada à promoção política das administrações, sem considerar os aspectos éticos e de qualidade informativa no qual deveria ser pautada, especialmente ao fomento da educação, à cidadania e à valorização da cultura. A história é repleta de exemplos das consequências danosas que o uso da máquina de comunicação pública pode trazer à sociedade, especialmente pela capacidade de forjar falsos conceitos e induzir a entendimentos que nem sempre condizem com a realidade.

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